Critérios
de análise e correlações incômodas
Pelo Pe.
Prof. Dr. Peter Mettler, MSF[i]
Belo
Horizonte, MG
Síntese:
O autor, apoiando-se em documentos da Congregação para a Educação Católica e em
carta do Secretário de Estado do Vaticano, analisa as motivações pelas quais
“não se pode admitir ao seminário e às ordens sacras aqueles que praticam a
homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente radicadas ou
apóiam a chamada cultura gay”. Que a homossexualidade, tal como descrita
nos documentos assinalados, representa um impedimento objetivo à ordenação,
provém da própria natureza do sacerdócio: além de dificultar a ação pastoral,
coloca em questão o modo mais adequado com que o presbítero estabelece relações
tanto com homens quanto com mulheres.
1.
Introdução
No dia 4
de novembro de 2005, a Congregação para a Educação Católica publicou uma Instrução
sobre os critérios de discernimento vocacional acerca das pessoas com
tendências homossexuais e da sua admissão ao seminário e às ordens sacras.[ii]
No texto aprovado pelo Papa Bento XVI, afirma-se que a Igreja “não pode admitir
ao seminário e às ordens sacras aqueles que praticam a homossexualidade,
apresentam tendências homossexuais profundamente radicadas ou apóiam a chamada cultura
gay”.[iii]
Uma
confirmação dessa posição veio à luz em maio de 2008. Numa breve carta a todos
os bispos e superiores religiosos, o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal
Tarcisio Bertone, enfatizou que as diretrizes de 2005 têm validade para todos
os centros de formação presbiteral.[iv]
Desde a publicação da Instrução, alguns bispos e superiores religiosos
haviam perguntado se a mesma vale para a Igreja em todo o mundo. A carta do
Cardeal Bertone, que se propõe expressamente esclarecer eventuais dúvidas, deu
agora uma resposta.
No dia 30
de outubro de 2008, a Congregação para a Educação Católica publicou “Diretrizes
para a utilização da Psicologia na admissão e formação de candidatos ao
sacerdócio”.[v]
O prefeito deste dicastério, Cardeal Grocholewski, frisou, em conversa com
jornalistas, que homens com tendências homossexuais não poderiam ser admitidos
às ordens sacras. Quem tem “essas tendências profundamente enraizadas” não
poderia ser admitido ao sacerdócio, exatamente pela natureza deste. De certa
forma, trata-se de uma ferida que dificulta a ação pastoral. Diz respeito
também ao modo mais adequado com que o presbítero estabelece relações, tanto
com homens quanto com mulheres, e não simplesmente da questão da continência.[vi]
Minha
tese de doutorado,[vii]
orientada pelo Prof. Dr. Hubert Windisch, na Universidade Albert-Ludwig de
Fribourgo (Alemanha), teve por objetivo analisar como essa reiterada proibição
de ordenação[viii]
se justifica e como se deve fundamentar que a homossexualidade, tal como
descrita pela referida Instrução, representa um impedimento objetivo à
ordenação.
2.
Homossexualidade em “transição”
Nos
últimos trinta anos, após longa história de avaliação negativa em amplos
setores da sociedade e da Igreja, pelo menos na civilização
ocidental-norte-americana, a compreensão da homossexualidade foi colocada às
avessas. Uma prática punível foi arbitrariamente transformada em constitutivo
da dignidade humana, um dos fenômenos mais surpreendentes da atualidade.[ix]
Trata-se, no caso, de uma mudança de consciência intencionalmente produzida, de
uma ruptura cultural proposital,[x]
resultante, sobretudo, da decadência de convicções éticas predominantes desde o
final dos anos sessenta do século passado, da influência dos relatórios Kinsey,
artificialmente construídos, ideologicamente motivados e moralmente
desencaminhadores, bem como da incomparável história de sucesso do movimento
gay internacional.[xi]
É, ao
mesmo tempo, impressionante e consternador verificar a coerência com que tais
objetivos foram e são perseguidos. Acima de tudo, aflige-nos as estratégias
inescrupulosamente empregadas para a consecução dos mesmos. Em tempo
relativamente curto, o movimento gay conseguiu não apenas tornar o
homossexualismo aceito na sociedade, mas também apresentá-lo como modo de vida
normal ou até mesmo preferível, o que, entretanto, contrasta radicalmente com a
realidade da vida homossexual e com seus desdobramentos físicos e psíquicos.[xii]
Amplos
setores da sociedade, particularmente o político, deixaram-se instrumentalizar
e doutrinar pelo movimento gay. Um exemplo disso é a resolução do parlamento
europeu, de 18 de janeiro de 2006. Não apenas na lógica, mas também na escolha
dos termos, fica patente como a maioria dos parlamentares se identifica
enfaticamente com as reivindicações e os interesses do movimento gay. Trata-se
de “extirpar a homofobia” e condenar “qualquer discriminação com base na
orientação sexual”. Na verdade, nem a resolução aprovada nem as propostas das
diversas bancadas chegaram ao ponto de “exigir uma proibição da Bíblia e do
Alcorão como literatura de agitação homofóbica. Porém, é possível que, mais
cedo ou mais tarde, haja um encaminhamento nessa direção”.[xiii]
De acordo
com G. Salina, vice-presidente da associação Eurocristians, 120 membros
do parlamento europeu pertencem ao Gay and Lesbian Intergroup.
Comentando as mais recentes mudanças de perspectiva no parlamento europeu, ele
afirma: “Se continuar assim, ninguém mais – nem o Papa, nem outra pessoa –
poderá criticar práticas homossexuais, porque incorreria imediatamente na
transgressão da homofobia”. É verdade que essa resolução não tem cunho
obrigatório para os governos de cada país. “Os países-membros podem até mesmo
ignorá-la, mas os diversos tribunais constitucionais empregam as resoluções do
parlamento europeu como fonte de direito”.[xiv]
Também no
Senado Federal Brasileiro está tramitando o projeto de “lei da homofobia” (PLC
122/2006). A proposta, iniciada e já aprovada, em 23 de novembro de 2006, na
Câmara dos Deputados (PL 5003-B, de 2001), pretende punir como crime qualquer
tipo de reprovação ao homossexualismo.[xv]
Segundo explica a advogada e presidente da Federação Paulista dos Movimentos em
Defesa da Vida, Maria das Dores Dolly Guimarães, “além dos direitos previstos
na Constituição para todas as pessoas, o homossexual, pelo simples fato de ser
homossexual, ganhará privilégios. O homossexualismo deixará der ser um vício
para ser um mérito. E quem ousar criticar tal conduta será tratado como
criminoso”. A advogada enfatiza ainda que “os primeiros a sofrerem perseguição
serão os cristãos”, citando como exemplo alguns artigos da lei. “A proposta
pretende punir, com 2 a 5 anos de reclusão, aquele que ousar proibir ou impedir
a prática pública de uma ato obsceno (“manifestação de afetividade”) por
homossexuais (art. 7). A conduta de um sacerdote que, numa homilia, condenar o
homossexualismo, poderá ser enquadrada no artigo 8: “ação [...] constrangedora
[...] de moral, ética, filosófica ou psicológica”, explica. “A punição para o
reitor de um seminário que não admitir o ingresso de um aluno homossexual está
prevista para 3 a 5 anos de reclusão (art. 5)”.[xvi]
Essa
submissão solícita e servil aos ditames do movimento gay foi um dos fatores que
contribuíram para dissolver o cânone vigente de valores, criando, assim, as
premissas para uma transformação radical da sociedade, com previsíveis
consequências nefastas para a mesma. D. Prager, por exemplo, define a
civilização ocidental, à luz da tradição judaico-cristã, como uma “conquista
extremamente complexa e única. Ela demandou uma constante renúncia à satisfação
imediata e um controle dos instintos naturais. O fundamento dessa civilização é
a integridade da vida familiar. A aceitação do homossexualismo como equivalente
ao amor conjugal heterossexual constitui um sinal tão seguro da decadência da
tradição ocidental quanto a rejeição do homossexualismo e outras formas de
sexualidade não-conjugal possibilitou o surgimento dessa civilização”.[xvii]
Na
análise dessa reviravolta, vozes e estudos científicos que não correspondem ao
que é considerado “politicamente correto” são ignorados, rechaçados, condenados
e até punidos, porque supostamente difamam e discriminam uma minoria e seus
direitos.[xviii]
“A retórica da tolerância vira ditadura de opinião. Aqui, revela-se o caráter
ideológico e ditatorial que conecta a “nova ideologia do mal” com as demais
“ideologias do mal”.[xix]
Com efeito, em seu último livro, “Memória e Identidade”, o Papa João Paulo II
definiu tanto o marxismo como também o nacional-socialismo como “ideologias do
mal”.[xx]
O mesmo pontífice levanta ali a formidável pergunta, se também na atualidade
haveria a ação de uma “nova ideologia do mal, mais traiçoeira e dissimulada que
as ideologias fracassadas do século passado”.
O finado
Papa cita inicialmente, como concretização da “nova ideologia do mal”, a
“negação legal de seres humanos gerados, porém ainda não nascidos”, deliberada
por parlamentos democraticamente eleitos, “em que as pessoas se reportam ao
avanço civil das sociedades e da humanidade toda”. Como mais uma concretização
dessa “nova ideologia do mal” ele considera o reconhecimento de uniões
homossexuais, obtido mediante forte pressão do parlamento europeu, como forma
alternativa de família “que também possui o direito de adotar crianças”.
A
destrutiva hostilidade diante da vida, característica das conhecidas
“ideologias do mal”, marxismo e nacional-socialismo, prolonga-se, para João
Paulo II, na negação de milhões de vidas humanas no ventre da própria mãe e,
por fim, dirige-se “contra o ser humano e a família” como premissa
insubstituível para a continuidade da vida humana. Isso não acontece, como no
marxismo e no nacional-socialismo, contra o direito e as leis, mas através da
alegação de “valer-se dos direitos humanos”.[xxi]
Contudo, não existe, nem na vida pública nem na privada, um direito humano ao
homossexualismo, visto que cada direito humano pressupõe que seu conteúdo seja
algo objetivamente valioso, o que, por diversas razões, não coaduna com o
homossexualismo. Ele viola, de modo peculiar, as “esferas dos bens da união, da
complementaridade entre homem e mulher e do horizonte de sentido da procriação,
aos quais a sexualidade humana está ligada. Em favor de um comportamento avesso
à natureza e contrário ao sentido da sexualidade humana, não se pode
reivindicar nenhum direito humano”.[xxii]
Na medida
em que a Igreja está inserida no mundo e vice-versa, não surpreende o fato de
que essa mudança forçada de mentalidade em relação à homossexualidade e sua
avaliação tenham penetrado as estruturas eclesiais, produzindo efeitos
desastrosos. Não por último, tal mudança encoraja sacerdotes e candidatos ao
ministério ordenado a confessarem publicamente suas tendências homossexuais, ou
seja, a “se assumirem”.
Alarmantes
são, contudo, os números desproporcionalmente altos, em comparação com a
população geral,[xxiii]
de seminaristas, sacerdotes e religiosos com tendências e também práticas
homossexuais, apurados nos EUA, no mundo de língua alemã e no Brasil. Ainda que
seja controversa a quantidade exata, o fato como tal não pode ser negado.
Conforme
Richard Sipe, entre 1978 e 1985, os relatos sobre homossexualismo no clero dos
EUA aumentaram tão significativamente que passaram a girar em torno de 38 a
42%. “Entre 1982 e 1985, vários informantes, dentre os quais nenhum tinha
tendência ou era homossexualmente ativo, estimaram que, em suas áreas, os
homossexuais perfaziam pouco menos de 50%. No mesmo período, obtive suficientes
informações de dois pequenos subgrupos separados, para poder confirmar que 50%
se enquadravam na categoria dos homossexuais”.[xxiv]
Acerca
desses e de outros dados apurados e de sua credibilidade, Sipe observa: “Alguns
provinciais e peritos examinaram todas as minhas estimativas, tanto durante a
elaboração de meu estudo quanto depois de sua conclusão, considerando-a
adequada. Mais de um bispo confirmou que meus dados coincidiam completamente
com suas próprias experiências. Em 28 de maio de 1993, o Cardeal José Sanchez,
prefeito da Congregação vaticana para o Clero, afirmou diante das câmeras da
BBC, respondendo a uma verificação de minhas estimativas sobre o celibato em
relação ao posicionamento sexual de sacerdotes norte-americanos: ‘Não tenho
motivos para duvidar do acerto desses dados’”.[xxv]
Em
congregações religiosas, a parcela dos que têm inclinações homossexuais parece
ser ainda maior. Donald Cozzens informa sobre um sacerdote, com grande
experiência tanto na formação como também na direção, que declarou publicamente,
numa conferência sobre AIDS e missão da Igreja, que 80% de sua numerosa
congregação, localizada na costa Leste, são gays.[xxvi]
Em outra ocasião, ele fala de pelo menos uma comunidade da mesma congregação,
situada a Oeste, em que se realiza uma sessão para membros gays quando a
comunidade se reúne.[xxvii]
Se esses
dados e informações dos EUA forem corretos, pelo menos de forma aproximada, a
Igreja Católica está criando aí um clero em que predominam as pessoas de tendências
homossexuais. “Está em discussão, no início do séc. XXI, a crescente idéia –
que raramente é questionada por aqueles que conhecem o estado clerical – de que
o ministério sacerdotal é, ou está em vias de se tornar, uma profissão para
gays”.[xxviii]
Para a
Alemanha e a área de abrangência do idioma alemão, bem como para o Brasil, as
estimativas estão ao redor de 20 a 25%, com tendência de alta.[xxix]
“Por isso, os conhecedores dizem sarcasticamente que a maior organização gay internacional
seria, afinal, a própria Igreja Católica Romana. Se todos se assumissem e
depois fossem expulsos”, diz N. Katzenbach, do grupo de trabalho ecumênico
‘Homossexualismo e Igreja’, “o Vaticano poderia fechar as portas”.[xxx]
Uma vez
que não existe uma explicação monocausal para essa reviravolta, ela não é
apenas provocada conjuntamente pela sociedade, mas, em proporção não
desprezível, gerada no âmbito da própria Igreja. Muitas lideranças na Igreja
agiram e agem de modo inconsciente e negligente, por meio de uma prática,
doutrina e pregação baseadas em conceitos, incorretamente entendidos, de amor e
tolerância, e, por último, negando a realidade, minimizando-a, silenciando e
tentando procrastinar o decidido enfrentamento do problema. Isso, porém, não
serve de desculpa para eles e tampouco os exime de sua responsabilidade.
Outros,
em contraposição, agiram e agem de modo intencional e consciente pela adoção de
ideologias e posicionamentos do movimento gay e de uma espiritualidade e
teologia que corresponda aos seus intentos, em franca oposição à doutrina da
Igreja. Os “dogmas” do movimento gay acerca do homossexualismo como disposição
imutável, geneticamente condicionada e, por conseqüência, inerente à identidade
do envolvido, em cuja cientificidade muitos evidentemente acreditam de modo
incondicional, são traduzidos para uma terminologia cristã. Por exemplo, fala-se
da homossexualidade como variante ou experiência da criação e equivalente da
natureza, deduzindo-se disso que a homossexualidade deve ser intencionada por
Deus e ser boa, e que deve ser permitido agir de acordo com a natureza.[xxxi]
Por ser
inato e, por isso, imutável, o envolvido deve se conscientizar de sua
identidade homossexual e, assim, também aceitar os impulsos provenientes dessa
condição, o que significa principalmente que ele pode e deve integrá-los em sua
vida amorosa, como expressa, sem rodeios, o teólogo e psicoterapeuta W. Muller,
numa contribuição para o novo Léxico para Teologia e Igreja: “Objetivo da
pastoral é, pois, ajudar as pessoas a aceitarem sua orientação homossexual e
vivê-la no amor. O engajamento pelos direitos humanos e civis de pessoas
homossexuais pode ser entendido nesse sentido como parte da pastoral. Quando se
aprecia hoje o comportamento homossexual, no contexto de uma relação pessoal,
de forma não diferente do comportamento sexual de pessoas heterossexuais em um
relacionamento pessoal, então a pastoral também considerará tarefa sua ajudar
pessoas homossexuais na configuração de uma parceria homossexual”.[xxxii]
As
declarações da Bíblia sobre a homossexualidade são classificadas como
pertinentes à época em que foram escritas, surgidas sob outras condições e
premissas, não podendo ser lidas como mera apreciação do homossexualismo
irreversível que encontramos hoje. Por isso, devem ser continuamente
reinterpretadas.[xxxiii]
Conforme H. Haag, por exemplo, com base na Bíblia, não se pode declarar
pecaminoso nenhum comportamento sexual, exceto o adultério. “Não temos nenhuma
palavra de Jesus contra a masturbação, contra o relacionamento extraconjugal,
contra a prostituição ou contra o homossexualismo. Tampouco, pode-se deduzir da
Bíblia a monogamia. Ela se tornou algo evidente apenas sob a influência
greco-romana. Jesus somente se pronunciou contra a prática frouxa e morna do
divórcio de seu tempo”.[xxxiv]
U. Engel
se reporta às exposições de R. Guardini sobre a auto-aceitação e opina que a
teologia gay poderia fazer uso da palavra do Salmo: “O quinhão que me coube é o
mais belo” (Sl 16,6b). Ele interpreta biblicamente o “assumir-se” e todo o
movimento gay como “êxodo da casa da escravidão das normas heterossexuais”.[xxxv]
Nessa
oposição à doutrina da Igreja, Michael S. Rose constata o motivo decisivo para
o número desproporcionalmente elevado e crescente de seminaristas, sacerdotes e
religiosos com tendências e práticas homossexuais: “Bispos e padres
responsáveis pela formação de presbíteros, com demasiada freqüência, dão um mau
exemplo, sobrepondo-se simplesmente à moral sexual claramente proclamada pela
Igreja, uma Igreja à qual prometeram servir. Constitui um escândalo de
proporções imensuráveis que é, pelo menos, cem vezes pior do que aquilo que os
meios de comunicação já desvendaram”.[xxxvi]
Rose cita páginas de exemplos de candidatos ao sacerdócio que não foram
aprovados nos testes psicológicos, por causa de sua moral sexual afirmadora das
opiniões da Igreja. Tais testes psicológicos, muitas vezes, foram elaborados e
aplicados por psicólogos ateus, distantes da Igreja ou até mesmo hostis a ela.
Nas avaliações dos referidos candidatos, cuja conduta sexual parecia coadunar
com a moral cristã, constava: “sexualmente subdesenvolvido” ou “dogmático
demais”. Quem confessa ser a favor do celibato e se nega a considerar o
homossexualismo como algo normal é considerado como alguém que apresenta sinais
de perversidade sexual.
Essa
flagrante discriminação de seminaristas heterossexuais leva, de modo
praticamente forçoso, à formação de uma subcultura homossexual e à constituição
de redes homossexuais nos seminários[xxxvii]
e, por conseqüência, também no clero,[xxxviii]
o que, por sua vez, exerce um efeito desestabilizador e repelente sobre
seminaristas e presbíteros heterossexuais, causando, não raro, o êxodo dos
mesmos. Deu-se, assim, um passo decisivo no caminho para a “homossexualização”
do clero.
Sem saber
como lidar com essa situação, muitos bispos se voltaram sem rodeios à negação.
Uma das consequências desse mecanismo psicológico de defesa é a tolerância de
casas paroquiais e seminários “cor-de-rosa”. Além disso, muitos bispos carecem
de autoconfiança intelectual para discutir com o poder acadêmico em seminários
e faculdades teológicas.[xxxix]
Um estudo
publicado no final de março de 2008 cita 96 faculdades e universidades
católicas em que existem núcleos que lutam sistematicamente em favor dos
interesses dos homossexuais. “Muitos desses núcleos partilham dos objetivos
radicais do movimento gay”, dizem os autores da pesquisa. “O propósito do lobby
é aumentar, mediante pressão maciça, a aceitação social entre cristãos da
América do Norte e inibir manifestações de opinião que não coadunam com a
agenda ideológica do movimento. 45% das 211 faculdades católicas informam, em
seus sites, sobre organizações e eventos do lobby homossexual realizados
em suas dependências. Entre elas, algumas instituições da Ordem dos Jesuítas
constituem estatisticamente o grupo de ponta (23). De acordo com o estudo,
também em universidades dos Dominicanos e de outras Ordens, tanto seus
dirigentes quanto seus estudantes se mostram identificados com os objetivos do
movimento gay”.[xl]
Em vista
da marcante observação de que, nos EUA dos anos 70, homens homossexuais
afluíram aos seminários, fazendo com que os números disparassem, não se pode
descartar que também forças de fora da Igreja Católica Romana contribuíram
intencionalmente para esse desenvolvimento,[xli]
precisamente na época em que o movimento gay começou, após formular seus
objetivos, com a “marcha pelas instituições”. Seria tão somente coerente que
essa “marcha” tivesse incluído a Igreja como adversária declarada dos objetivos
propagados.[xlii]
Os casos
de abuso sexual de menores por parte de sacerdotes e religiosos, que nos anos
passados causaram à Igreja um imenso dano moral e financeiro, estão
estreitamente ligados à evolução acima delineada, o que é negado com veemência
pelo lado envolvido, mas que é inegável sob uma observação e análise objetivas
e sóbrias dos fatos.
Diante da
pergunta pelas conclusões que se devem tirar dos dados oferecidos pelos
relatórios John Jay, de 2002, confeccionados a pedido da Conferência Episcopal
norte-americana, 80 a 90% dos padres, que nos últimos 52 anos abusaram
sexualmente de menores, se envolveram com rapazes adolescentes entre 14 e 17
anos – efebofilia – e não com meninos pré-pubescentes – pedofilia – R.
Fitzgibbons, eminente representante da Associação Médica Católica dos EUA e
recém-nomeado consultor da Congregação para o Clero, respondeu: “Os relatórios
John Jay mostraram claramente que não existe na Igreja uma crise de pedofilia,
mas de homossexualismo. A maioria das vítimas não era de crianças, mas de
jovens adolescentes. Espero que esse esclarecimento, para considerar o
homossexualismo como problema básico causador da crise, leve a uma série de
novos passos para proteger a Igreja, o sacerdócio, bem como os jovens e as
crianças”.[xliii]
Para
Antonio Moser, é notório que esses escândalos aconteçam primordialmente no
mundo anglo-saxão que, no passado, se destacava por seu rigor ético e hoje por
seu consumo desenfreado, pela busca incontida de “auto-realização” e “felicidade”,
bem como de uma supremacia jamais vista. “É de se perguntar se a incidência
mais numerosa justamente nestas nações do hemisfério norte se constitui numa
mera casualidade, ou se já não é um indicador de sociedades aparentemente
pujantes, mas na realidade decadentes”.[xliv]
As
medidas que foram aprovadas por diversas conferências nacionais episcopais,
depois da notícia dos casos de abuso sexual, não podem encobrir o fato de que,
em última análise, foram tomadas por exigência de fora, da sociedade e dos
meios de comunicação, o que desnuda uma violação do dever de muitos bispos.
Igualmente, tais medidas podem ser consideradas apenas como os primeiros
passos, ainda vacilantes, de um processo abrangente de purificação e renovação
da Igreja. Seria uma ilusão nefasta crer que medidas administrativas sozinhas
são capazes de solucionar os problemas explicitados. Irrenunciável, no entanto,
é retornar à consideração da “plenitude total da verdade cristã referente à
moral sexual”, demandada pelo Papa João Paulo II, na explicitação da doutrina e
em todos os níveis da Igreja, incluindo um resoluto exercício do poder diretivo
por parte dos respectivos ordinários.
3. A
homossexualidade na perspectiva bíblica e nas declarações do Magistério
O
testemunho das Sagradas Escrituras é inequívoco: nem no Antigo nem no Novo
Testamento encontra-se uma única apreciação positiva da prática do
homossexualismo. Pelo contrário, ele é incontestavelmente rejeitado e condenado
como delito grave.[xlv]
Essa posição e avaliação negativa não devem ser entendidas como reação contra a
prostituição homossexual sacral, como pensa, por exemplo, H. J. Schoeps,[xlvi]
mas é decorrência lógica da imagem que a Sagrada Escritura tem de Deus, bem
como de suas afirmações sobre a natureza e destinação do ser humano, da
sexualidade, do matrimônio e do pecado, expostas principalmente em Gênesis 1-3.
W. Führer
frisa que a proibição estrita ao homossexualismo no Antigo Testamento se situa
no contexto das leis matrimoniais, bem como no fato de que, no centro do código
de santidade, está a “incansavelmente repetida fórmula de auto-apresentação”:
“Eu sou o Senhor, vosso Deus”. “Desses dados resulta que a proibição estrita do
relacionamento entre sexos iguais está alicerçada no Primeiro Mandamento e
representa uma diretriz ética do Sexto Mandamento. Ser santo significa, no
contexto de Levítico 17-26, pertencer unicamente a Deus, que é Santo. A
exigência: ‘Sereis santos, porque eu sou santo, o Senhor, vosso Deus’ (Lv 19,2)
exclui peremptoriamente a prática homossexual como incompatível com a
existência perante Deus e com a pertença ao seu povo. Asselvajamento e
desencaminhamento sexual constituem marcas dos cananeus, que foram expulsos por
Israel como punição por sua culpa (Gn 15,16). Não apenas na família extensa dos
tempos do nomadismo, mas também e justamente depois do exílio babilônico, a relação
com Deus não pode ser preservada incólume e a congregação do povo de Deus não
pode ser construída, se a proibição do relacionamento homossexual não vale de
modo inviolável. É justamente isso que se expressa em Levítico 18,22 e se
repete em Levítico 20,13, com vistas ao direito penal vigente em Israel. A
condenação ao homossexualismo está alicerçada na fé em Deus, que se revelou no
Monte Sinai. É uma conseqüência que foi tirada, e tinha de ser tirada, do
Primeiro e Sexto Mandamentos, porque sem a proibição da libidinagem não é
possível que o povo de Deus tenha um ‘comportamento condizente com a aliança’
diante de Deus”.[xlvii]
Também
para Moser, essa negação categórica ao homossexualismo não remete apenas ao
nível moral, mas também diretamente ao teológico: “No início havia o caos, ou
seja, não havia diferenciação, mas uma mistura desordenada de elementos; Deus
começa a colocar ordem, justamente estabelecendo a diferenciação dos elementos:
terra, ar, água… A expressão máxima da diferenciação organizadora e fecunda
encontra-se justamente na diferenciação sexual: Ele os criou homem e mulher.
Ora, o homossexualismo, na compreensão do Levítico, é a expressão de uma certa
volta atrás, da confusão e da esterilidade. Acontece que esquecer a diferença é
também a expressão da idolatria daqueles que esquecem a condição criatural para
se igualarem a Deus, ou então tomam criaturas como se fossem o Criador. Na
compreensão bíblica, o reconhecimento da diferença sexual descentraliza o
sujeito de si mesmo e lhe mostra seus limites; já o desconhecimento desta
diferença ameaça aprisionar a pessoa no círculo encantado e mortal de si mesmo”.[xlviii]
As
afirmações e orientações do Antigo Testamento são confirmadas por Jesus Cristo.
Seu silêncio sobre a homossexualidade, muitas vezes destacado e enfatizado na
atual discussão, é, na realidade, um silêncio muito eloqüente, que de forma
alguma pode ser interpretado como aprovação ou como indício de que a questão é
irrelevante para seu pensar, agir e ensinar.[xlix]
Sem se
reportar a Gênesis 1-3 e às correlações fundamentais ali explicitadas, não é
possível realizar uma exegese teologicamente coerente das afirmações do Antigo
e Novo Testamentos sobre a homossexualidade. O nexo abrangente e a localização
no respectivo contexto são determinantes para a formação de juízo dos
documentos bíblicos acerca do tema. São somente eles que fornecem e atribuem
significado a cada afirmação. No entanto, quando uma passagem for privada de
seu contexto pela citação isolada, estará entregue indefesa à arbitrariedade
hermenêutica do leitor.
Contra a
acusação de um pensamento “a-histórico” e “fundamentalista”, sempre de novo
imputada à posição da Igreja em relação às declarações bíblicas sobre o
homossexualismo, é preciso salientar que não pensa de forma a-histórica quem
analisa com precisão a partir do contexto bíblico geral e com conhecimentos
históricos, mas sim, aquele que, sem justificativa plausível, descarta e
condena afirmações bíblicas cabalmente como “circunscritas à época”.[l]
A
reinterpretação arbitrária de afirmações bíblicas acontece sem consideração
pela tradição exegética da Igreja. A Bíblia, no entanto, não pode ser entendida
em seu sentido real, se for interpretada de uma forma que contradiz a tradição
viva da Igreja. Sua interpretação, para ser correta, tem de estar em
consonância verdadeira com essa tradição. Por isso, para a exegese de uma
passagem da Bíblia, é sempre importante verificar como, nos primeiros séculos,
os Padres da Igreja a entenderam, uma vez que, afinal, estiveram mais próximos
desses escritos. É estranho “que a maioria dos comentários modernos,
particularmente em idioma alemão e inglês, ignore os Padres da Igreja”.[li]
Uma reinterpretação arbitrária despreza, ademais, um princípio de interpretação
das Escrituras, que foi expressamente enfatizado e ensinado pelo Concílio
Vaticano II: “O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus foi
confiado unicamente ao Magistério Vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em
nome de Jesus Cristo” (DV 10).
De acordo
com o testemunho de toda a Bíblia, a prática da homossexualidade é contrária à
criação e contradiz a ordem intencionada e estabelecida por Deus. “A
diferenciação entre a norma e a conduta que dela se desvia não pode ser
abandonada pela Igreja. Nesse ponto, situa-se o limite para uma Igreja cristã
que se sabe atrelada à autoridade da Escritura. Quem a pressiona a alterar a
norma de sua doutrina nessa questão tem de saber que promove sua cisão. Porque
uma Igreja que se deixasse pressionar a não mais tratar a atividade homossexual
como desvio da norma bíblica, reconhecendo convivências homossexuais como uma
forma de comunhão de amor interpessoal equiparada ao matrimônio, já não estaria
firmada no chão da Escritura, mas contraposta a seu testemunho unânime”.[lii]
Ainda que
não seja um tema predominante na Bíblia, o homossexualismo e sua inequívoca
rejeição por ela não são algo marginal que pudesse ser negligenciado como
secundário. Quem exige que o homossexualismo seja reconhecido como variante
equivalente da criação ao lado da heterossexualidade visa, na prática, uma
imagem do ser humano diferente e que diverge da mensagem bíblica. Tais
exigências e intenções tentam alvejar o âmago da criação e, por isso, se
voltam, consciente ou inconscientemente, contra o próprio Criador. “O ser
humano se rebela contra milênios de história da humanidade, contra sua própria
natureza. Ele reinventa a si mesmo. Luta contra seu Criador. Não deseja ser
imagem dele, mas seu próprio criador e senhor”.[liii]
Em decorrência, pode-se decididamente falar de uma espécie de “antigênesis”, de
um “contraprojeto”, contra a “gramática da vida” concebida e intencionada por
Deus.[liv]
No seu
discurso dirigido aos membros da Cúria Romana e do governo da Cidade de
Vaticano, a 22 de dezembro de 2008, o Papa Bento XVI tocou também neste
assunto, pronunciando-se com toda a clareza: “O que, com freqüência, se expressa
e entende com o termo “gender” sintetiza-se, em definitivo, na auto-emancipação
do homem da criação do Criador. O homem quer fazer-se por sua conta e decidir
sempre e exclusivamente sozinho sobre o que lhe afeta. Mas, deste modo, vive
contra a verdade, vive contra o Espírito Criador. Os bosques tropicais merecem,
certamente, nossa proteção, mas não menos a merece o homem como criatura, no
qual está inscrita uma mensagem que não contradiz a nossa liberdade, mas que é
a sua condição”.[lv]
Por isso, a Igreja tem que defender não somente a terra, a água, o ar, como
dons da criação que pertencem a todos, mas tem que proteger o homem contra sua
própria destruição. “É necessário que haja algo como uma ecologia do homem,
entendida no sentido justo. Quando a Igreja fala da natureza humana como homem
e mulher e pede que se respeite esta ordem da criação, não está expondo uma metafísica
superada. Aqui se trata, de fato, da fé no Criador e da escuta da linguagem da
criação, cujo desprezo significaria uma autodestruição do homem e, portanto,
uma destruição da própria ordem de Deus”.[lvi]
Apesar de
todas as unilateralidades e distorções condicionadas pela época na história da
teologia que, no entanto, jamais representaram a “corrente principal” na Igreja
e na construção do saber teológico, ficou preservada a linha fundamental
preestabelecida pela Bíblia.[lvii]
Foi somente em tempos mais recentes que também teólogos católicos a
abandonaram, sendo que inicialmente se amoleceu o juízo moral por meio de uma
indevida psicologização do comportamento ético e, finalmente, tentou-se obter a
fundamentação de tal juízo atenuado por meio de interpretação desviante das
afirmações das Sagradas Escrituras. Justamente as considerações acerca das
passagens bíblicas de Gn 19,1-29; Jz 19,13-48; Lv 18,22; 20,13; Rm 1,26s; 1Cor
6,9-11; 1Tm 1,10 explicitam, na ponderação das mais diferentes posições
exegéticas e teológico-morais, o quanto a própria Bíblia, em seu trato
seletivo, se torna um documento meramente condicionado pelo seu tempo, sem
afirmações substanciais sobre questões essenciais e que pode ser moldado e
pressionado ao bel-prazer até que corresponda às próprias idéias dos
interessados. A exegese se torna “eisegese”.
As
insistentes e repetidas exortações nos documentos do Magistério eclesiástico,
sobretudo aos bispos para que cumpram sua responsabilidade na pregação plena do
ensinamento eclesiástico acerca da moral sexual, contêm implicitamente a
constatação de que, no caso, bispos faltaram na necessária determinação, com
graves consequências negativas para a Igreja.[lviii]
4.
Homossexualidade e suas causas na visão das ciências humanas
Desde
que, em 1973, a Associação Psiquiátrica Norte-americana (APA) retirou a
homossexualidade de sua lista de distúrbios psíquicos, sob pressão do movimento
gay e não com base em novas teorias científicas,[lix]
a pesquisa sobre as causas do problema foi cada vez mais onerada
ideologicamente. Duas reivindicações de resultados unilateralmente favoráveis à
ideologia gay parecem ter contribuído para a acentuada distorção da compreensão
da homossexualidade: A primeira consiste em afirmar que não se pode levantar
características negativas de personalidade associadas à homossexualidade. A
segunda compreende a homossexualidade como algo diretamente herdado. A
discussão sobre a homossexualidade foi e está sendo conduzida até hoje sob a
pressão dessas premissas do movimento gay. Não será fácil encontrar casos
comparáveis na história da ciência moderna, sobretudo nos países livres, onde o
cerceamento do trabalho foi e continua sendo promovido por motivos políticos e
ideológicos, por tanto tempo e com tanta eficácia como no caso do
homossexualismo e de suas causas.[lx]
Nenhum
dos estudos existentes até agora, que tentaram comprovar fatores biológicos
como causa principal da homossexualidade, pode ser apresentado como definitivo.
Tais estudos são, na melhor das hipóteses, meramente especulativos. Além de não
serem livres de contradições, seus resultados não foram repetidos e confirmados
até o presente por outras pesquisas independentes. Com efeito, a confirmação
dos resultados com base em outras pesquisas constitui-se numa exigência
irrenunciável da investigação científica.[lxi]
Em seu parecer para o governo federal alemão, o sociólogo M. Dannecker, cuja
identificação com a ideologia gay é de todos conhecida, também constata: “Todas
as tentativas realizadas no passado de ancorar biologicamente a
homossexualidade precisam ser classificadas como fracassadas”.[lxii]
A procura
por peculiaridades hormonais ou neuroanatômicas em pessoas de tendências
homossexuais revela uma mentalidade do séc. XIX, segundo a qual as divergências
da norma são originárias de anormalidades no cérebro, que, ademais, são
hereditárias. Contudo, não existe nenhum fundamento científico para, em
princípio, não considerar fisicamente normais e saudáveis pessoas com
tendências homossexuais. Várias pessoas que procuram por uma causa genética da
homossexualidade parecem já não acreditar mais na existência de um “gene gay”.
Por exemplo, o próprio D. H. Hamer, já festejado como o descobridor do “gene
gay”, admite: “Não esperamos encontrar (no futuro) um gene que seja igual em
todos os homens homossexuais, a saber, um que esteja ligado à orientação
sexual”.[lxiii]
Também o
papel, do ponto de vista dos genes, parece se modificar. Se anteriormente eram
os principais determinantes, hoje os genes são contados mais como fatores que
predispõem para o desenvolvimento em direção à homossexualidade. Com isso, no
fundo, admite-se tacitamente que os principais motivos e as causas decisivas se
situam na história da vida do indivíduo.[lxiv]
No entanto, quando os fatores e explicações psicológicos realmente recebem
atenção nos estudos sobre as causas biológicas da homossexualidade, em geral
são descartados como secundários. Muitas vezes, nem sequer são mencionados.
Isso aponta para o desconhecimento que leva a não querer conceder à psicologia o
peso que lhe cabe, ou para a indisposição, ou ainda para ambas as coisas.
A
pesquisa sobre as causas da homossexualidade é, muitas vezes, realizada por
cientistas com tendências e práticas homossexuais, “muitos dos quais são, pelo
menos em parte, motivados pelo desejo de demonstrar que são normais ou de
justificar seu estilo de vida: A ‘ciência’ é considerada como poderoso
instrumento para tal”.[lxv]
Ainda que
fossem comprovadas causas biológicas da homossexualidade, o que, no entanto, se
tornou improvável em virtude dos estudos dos últimos anos, não resultaria daí,
automaticamente, que a homossexualidade é “natural”, no sentido de ser
condizente com a natureza criada, que ela é desejável ou que sua prática se
justifica eticamente. “Quando se identifica a ‘natureza existente’ com a
‘criação de Deus’, tudo o que ‘se formou naturalmente’ é transformado em
‘criado e querido por Deus’. Uma equiparação dessas entre a natureza e a obra
de Deus nega que na natureza nos deparamos não apenas com a criação
intencionada por ele, mas igualmente com o mal que a corrompe, que Deus não
criou nem intencionou. Na perspectiva ética, cai-se numa ‘conclusão falaciosa
naturalista’, porque se deduz do ‘existente’ que ele também deve ser e
– em perspectiva teológica – corresponde à vontade de Deus”.[lxvi]
Quem, até
o momento, ainda não se ocupou suficientemente da homossexualidade na
perspectiva psicológica, tende a surpreender-se com as afirmações dos clássicos
da psicologia: Sigmund Freud, Wilhelm Stekel, Alfred Adler e Carl Gustav Jung,
que não a consideraram como normal no sentido de uma variante equivalente da
natureza humana.[lxvii]
Especialmente importante, bem como persistentemente válida e atual, vem a ser a
descoberta de Adler acerca da homossexualidade como inferioridade sexual, que
conduz de maneiras distintas a déficits de personalidade. Os atuais conceitos
norte-americanos “impaired gender identity” [identidade de gênero
diminuída] e “gender nonconformity” [não-conformidade de gênero], no
fundo, não fazem outra coisa a não ser confirmar o conceito e as acertadas
percepções de Adler.
Estritamente
ligado a essa observação da homossexualidade como inferioridade sexual está o
reconhecimento de que o desejo homossexual constitui uma forma patológica de
busca da masculinidade. Trata-se, portanto, de uma tentativa irrealista de
contrabalançar esse déficit. Uma “reparação” da não-masculinidade que, no
entanto, por estar baseada sobre um sentimento duradouro de inferioridade, não
pode ser bem-sucedida e fracassa quanto mais vezes for ensaiada, degenerando em
um sentimento de compulsão. Essa constelação, chamada por Adler de complexo de
inferioridade, impede que a respectiva pessoa se torne adulta, por se tratar de
uma fuga da identidade masculina ou feminina.
A
homossexualidade adquirida é psicologicamente explicável. Já em 1932, o Prof.
Dr. Harald Schultz-Henke, um dos grandes nomes da psiquiatria alemã,
posicionou-se a favor de uma “explicação cabalmente psicológica” da
homossexualidade.[lxviii]
Seu posicionamento atraiu a adesão de pesquisadores e terapeutas como Gerard
van den Aardweg, Lawrence Hatterer, Joseph Nicolosi e Richard Fitzgibbons.[lxix]
Para eles, não é fácil ensinar e, consequentemente, agir contra a corrente
psicológica dominante, desde que a pesquisa sobre as causas da homossexualidade
foi cada vez mais onerada e distorcida ideologicamente.
Entre as
causas da homossexualidade estão, aparentemente, em primeiro lugar,
relacionamentos mal-sucedidos. Gender nonconformity / impaired gender
identity na infância constitui, segundo ampla concordância, o fator isolado
mais frequente, associado à homossexualidade. Uma autoanálise sincera dos
envolvidos resulta na constatação de que os mesmos eram diferentes em relação
às demais crianças nos sentimentos e no comportamento e se sentiam
inferiorizados no mundo dos rapazes ou homens, e excluídos dele.[lxx]
Em segundo lugar, ocupa um papel importante o relacionamento com a figura
paterna. Uma apreciação de diversos estudos empíricos chega à conclusão de que,
com poucas exceções, o homossexual masculino declarou que o pai tinha uma
influência negativa sobre sua vida e/ou era emocionalmente ausente.[lxxi]
Com freqüência, em pessoas com tendências homossexuais, ocorrem relacionamentos
patológicos mãe-filho, em diversas variantes, que não foram superados.
As
impressões de inferioridade e isolamento no mundo de rapazes ou homens levam à
admiração, romantização e erotização do mesmo sexo. Tais consequências podem
desencadear desejos homossexuais que, potencializados na vivência concreta dos
indivíduos, são sintomas de uma crise mais profunda de identidade. Não
escolhidos e intencionados conscientemente, tais desejos se constituem como um
distúrbio de personalidade, adquirindo aos poucos uma progressiva autonomia, de
modo que a pessoa implicada torna-se refém de uma mania sexual.
Por
natureza e origem, a homossexualidade não é um problema sexual, mas um problema
de identidade, por meio do qual diversos âmbitos do crescimento da
personalidade são bloqueados. Isso se revela em determinadas formas de conduta
das pessoas envolvidas. Ainda que essas formas de conduta não se verifiquem de
modo idêntico em todas as pessoas implicadas, elas, contudo, ocorrem com tanta
freqüência que podem ser consideradas típicas.[lxxii]
A personalidade de pessoas com tendências homossexuais é determinada por forças
que atuam umas contra as outras. Ao lado da personalidade desenvolvida
normalmente, atua um lado imaturo da personalidade em geral: a “criança
interior” que estagnou em um patamar e que influi juntamente no pensamento, nas
emoções e na conduta da pessoa adulta.[lxxiii]
Como decorrência da presença e atuação da “criança interior” na pessoa de
tendência homossexual, o egocentrismo e a ocupação narcisista consigo mesmo
passam a ter um espaço determinante. O adulto continua cativo de um
egocentrismo infantil, o que pode levar a que uma pessoa, em última análise,
vise a si própria em tudo o que faz.
Estreitamente
ligados a esse egocentrismo, estão, muitas vezes, a falta de companheirismo, a
desconfiança, a mania de dominação, a tendência à autoacusação e à
autodramatização, a hipersensibilidade, a facilidade de ser magoado e ferido, o
ciúme, sentimentos de vingança e frieza, atitudes rebeldes, bem como,
principalmente naqueles que vivem um homossexualismo ativo, uma tendência
exacerbada a adquirir certas características de personalidade classificáveis de
psicopatas, como desonestidade e dissimulação etc. Fica evidente que tais
características denotam também uma capacidade fortemente diminuída de manter
sadios relacionamentos, bem como uma notável incapacidade de ser sexualmente
fiel, como comprovam diversos estudos.
Via de
regra, os relacionamentos homossexuais são muito curtos. O estudo de Tuller
averiguou que a maioria desses relacionamentos dura de dois a quatro anos.
Somente num dos casos analisados, a relação durou 7 anos.[lxxiv]
Conforme E. Lauman, um morador urbano que vive homossexualmente passa
tipicamente a maior parte de sua vida adulta em relacionamentos de curta
duração de menos de seis meses.[lxxv]
Muitos homens que praticam a homossexualidade têm, no curso da vida, em média
centenas de parceiros sexuais. No estudo sociológico realizado nos anos 70 sobre
homossexuais masculinos, na República Federal da Alemanha, Dannecker e Reiche
chegaram ao resultado de que cifras elevadas de parceiros sexuais são
totalmente normais. “Cada sétimo praticou sexo na vida com mais de 600 homens
e, no ano passado, com mais de 50 homens”.[lxxvi]
Bell e Weinberg, em 1978, constataram, num célebre estudo sobre a
homossexualidade masculina e feminina, que 26% dos homens brancos homossexuais
alcançavam de 3 a aproximadamente 100 parceiros sexuais. Cerca da metade (47%)
dos inquiridos teve entre 100 e 1.000 parceiros sexuais. E, aproximadamente, um
terço (28%) assinalavam, em sua biografia, mais de mil parceiros sexuais. 79%
indicaram que mais da metade dos parceiros sexuais eram estranhos. Somente 1%
dos homens havia tido menos de 5 parceiros sexuais.[lxxvii]
Conforme F. Suppe, o homossexualismo requer seus próprios princípios, que “se
situam em total contraste com a cultura heterossexual”, e nos quais “se precisa
aprender a entender o sexo primordialmente como atividade de lazer, na qual se
troca de parceiro com a mesma ausência de compromisso e facilidade com que se
arranja um parceiro para uma partida de tênis”.[lxxviii]
Sem
dúvida, o percentual dos matrimônios sexualmente fiéis está significativamente
longe de 100%, mas, apesar disso, é muito grande a diferença entre casais
heterossexuais e relacionamentos homossexuais. Entre homens com vida
homossexual é ínfima a probabilidade de fidelidade por toda a vida. Em termos
estatísticos, ela é quase insignificante. “A promiscuidade entre homens
homossexuais não é apenas um preconceito ou somente uma experiência da maioria.
Ela, no fundo, representa a única experiência. Tragicamente, a fidelidade
vitalícia em experiências homossexuais, por assim dizer, não existe”.[lxxix]
O conceito de fidelidade recebe uma nova definição. A fidelidade não precisa
necessariamente significar fidelidade sexual, mas simplesmente o apoio mútuo na
vida. Cumpre diferenciar entre fidelidade social, emocional e sexual, sendo que
à fidelidade sexual se atribui uma importância menor.[lxxx]
À
primeira vista, esses fatos parecem contrastar com a muitas vezes observada
facilidade de contato e relacionamento de pessoas com tendências homossexuais,
bem como com sua capacidade de atrair outros e prendê-los a si. Contudo, não se
trata de relacionamentos superficiais, ainda que cordiais, mas de
relacionamentos profundos, em que a pessoa pode se abrir e mostrar-se
integralmente. Proximidade, intimidade e confiança, porém, não podem ser
obtidas sem fidelidade, sem a qual, tampouco, se pode alcançar a maturidade.
Quem joga uma fidelidade (sexual) contra a outra (social e emocional) cinde o
ser humano e esvazia a palavra fidelidade. O papel “gay” estorva os contatos
humanos genuínos e cria um muro de separação. A evidenciada abertura e
facilidade de contato são meras exterioridades. Essa capacidade fortemente
restrita de relacionamentos e a incapacidade para a fidelidade, com freqüência,
levam ao isolamento, solidão, depressão, alcoolismo e risco de suicídio dos
envolvidos.
Outra
característica de muitas pessoas de tendência homossexual é o predomínio de sua
emotividade, porque a eficácia da “criança interior” geralmente significa que o
ser humano orienta seu agir primordialmente pelos sentimentos. A destacada
emotividade, porém, constitui a característica de um estágio evolutivo já não condizente
com a idade. Também o sentimento de inferioridade sexual de pessoas com as
mesmas tendências geralmente traz implícita uma falta de autoconfiança e
autonomia, pusilanimidade, fraqueza do eu e passividade.[lxxxi]
Da mesma forma, há homens que, embora não manifestem tendências homossexuais,
apresentam sintomas de deficiência emocional, “mas essas carências não são
características da heterossexualidade, sendo-o, porém, do homossexualidade”.[lxxxii]
Muitos
homens com tendências homossexuais manifestam uma impetuosa atração por
adolescentes do sexo masculino. Ademais, entre eles, a ocorrência de pedofilia
é relativamente mais frequente do que entre heterossexuais. “Estudos cuidadosos
mostram que a pedofilia pode ser constatada com mais frequência entre
homossexuais do que entre heterossexuais. O número absolutamente maior de casos
de pedofilia cometidos por heterossexuais resulta do fato de que os
heterossexuais são muito mais numerosos do que os homossexuais, na proporção aproximada
de 36 para 1. A pedofilia heterossexual em relação à pedofilia homossexual está
apenas na proporção de 11 para 1, o que assinala que a pedofilia ocorre com
frequência três vezes maior entre homossexuais”.[lxxxiii]
A hoje
alardeada “normalidade” do homossexualismo não se apóia em nenhuma comprovação
cientifica. De fato, o homossexualismo deve ser considerado como “enfermidade
psíquica”, “distúrbio’ ou “neurose”, independentemente de suas variações
terminológicas. Van den Aardweg justifica assim o termo enfermidade: “A palavra
enfermidade, que empreguei para apontar o caráter compulsório da
autocomiseração em pessoas homossexuais, não deveria dar motivo a
mal-entendidos. Normalmente, esse conceito é usado para distúrbios físicos ou
psíquicos que provavelmente possuem causas físicas. Contudo, igualmente serve
para designar distúrbios emocionais com causas psicológicas, porque também
nesses casos nos deparamos com dois elementos essenciais daquilo que
normalmente chamamos de enfermidade: a função insuficiente e anormal de uma
parte do corpo ou da psique e o fato de que a respectiva pessoa se encontra
nessa situação sem sua vontade ou responsabilidade. A palavra ‘enfermo’ é usada
em sentido análogo, designando ambas as coisas: distúrbios físicos e
psíquicos”.[lxxxiv]
O
psiquiatra vienense Erich Ringel diagnosticou a homossexualidade
“indubitavelmente como enfermidade”, como “sintoma neurótico”, “resultante de
um desenvolvimento doentio na infância, que leva a uma estrutura anormal da
personalidade na esfera sentimental”. A homossexualidade constitui, para
Ringel, “um exemplo ideal de uma sintomatologia sexual, por trás da qual se
oculta um distúrbio de personalidade”.[lxxxv]
Também Wilhelm Frankl fala da “perversão homossexual” e de “enfermos”.[lxxxvi]
O dogma
fundamental do movimento gay, de que a homossexualidade é algo inato e pertence
imutavelmente à natureza e identidade do respectivo envolvido, evidencia-se
como elaboração insustentável, como um conceito político-ideológico sem
fundamento biológico, nem psicológico. Constitui uma vitória para o movimento
gay o fato de muitos “crerem” nesse dogma. Entretanto, por meio de uma terapia,
é possível alcançar, para as pessoas envolvidas, muitos resultados positivos,
que vão desde uma atenuação das tendências homossexuais e um domínio sobre as
fantasias sexuais até uma mudança completa rumo à heterossexualidade. Essa
mudança, sem dúvida, mostra-se difícil, mas, de qualquer modo, é possível em
número maior do que se supõe. Importa evitar a falsa alternativa: “ou mudança
total ou nenhuma” e ver os resultados positivos de um processo de mudança ainda
não concluído para os envolvidos.
Não se
pode deixar de mencionar um relevante estudo sobre esse ponto: o estudo de
Spitzer.[lxxxvii]
R.L. Spitzer desempenhou um papel-chave, quando, em 1973, a APA retirou a
homossexualidade da lista dos distúrbios psíquicos. Desde então, ele estava
convicto, como afirmou, de que, por um lado, é possível lutar contra os desejos
homossexuais, mas, por outro, ninguém realmente seria capaz de mudar sua
orientação sexual. Por ocasião da conferência anual da APA de 1999, o mesmo
pesquisador se dirigiu a pessoas que, no passado, se consideravam homossexuais
e que protestavam diante da entrada do prédio da conferência em favor de sua
autodeterminação e do direito à mudança. Continuando a ser muito cético quanto
à possibilidade de uma mudança na orientação sexual, ele decidiu que nessa
questão obteria clareza unicamente por meio de uma pesquisa realizada por ele
próprio. O resultado desse estudo é sintetizado por ele como segue: “O estudo
mostra que alguns homens gays e algumas mulheres lésbicas, que se submeteram à
terapia restauradora, relatam uma grande transformação de sua orientação
predominantemente homossexual. Essa mudança, com base na terapia restauradora,
não se restringe ao comportamento sexual e à autoidentidade sexual. Essas
mudanças se referem à atração, excitação, fantasia, saudade e irritação por
causa de sentimentos homossexuais. As mudanças se referem aos aspectos axiais
da orientação sexual. Também aqueles participantes que experimentaram apenas
uma mudança limitada, apesar disso, consideram a terapia extremamente útil.
Participantes relatam o proveito referente a mudanças não-sexuais como
diminuição da depressão, maior experiência de masculinidade em homens e
feminilidade em mulheres e de um desenvolvimento de relacionamentos íntimos
não-sexuais com pessoas do próprio gênero”.[lxxxviii]
Essas mudanças não se constituem, ao contrário do que se costuma afirmar, como
perigosas, não-científicas, muito menos como aéticas ou desumanas, por “mudarem
a polaridade” ou serem forçadas por pressão religiosa. Uma vez que, num
processo de mudança, o ser humano está envolvido em toda sua complexa
totalidade, vários terapeutas recomendam uma síntese de tratamento psíquico,
por um lado, e de espiritualidade e ascese cristã, por outro.
Ao
contrário do que vem acontecendo nos EUA, na Europa, poucos terapeutas
trabalham com os envolvidos mediante um processo de mudança, sem deixar de
aconselhá-los a aceitarem suas tendências homossexuais e efetivá-las.
Entretanto, é possível prevenir uma evolução em direção à homossexualidade,
como também enfatiza a Associação Médica Católica dos EUA: “Quando se
corresponde suficientemente às necessidades emocionais e evolutivas da criança,
seja por parte da família, seja por parte de seus coetâneos, é pouco provável
que se desenvolva nela uma atração homossexual”.[lxxxix]
5. O Codex
Iuris Canonici de 1983 e a Instrução de 2005
Conforme
o c. 1024 CIC, somente um homem batizado pode receber validamente o sacramento
da Ordem.[xc]
Embora um homem com tendências homossexuais consiga se identificar apenas
deficitariamente com sua masculinidade, ele não deixa de ser homem segundo sua
natureza real e psíquica. Portanto, depois de batizado, o mesmo parece cumprir
as duas condições citadas para ser validamente admitido à Ordenação. Uma
compreensão puramente formal da masculinidade, porém, mostra-se insuficiente no
que tange ao sacramento da Ordem e a seu exercício sensato e frutífero.
J. San
José Prisco chama a atenção para o fato de que não são os órgãos sexuais
masculinos que definem a condição de homem ou varão. A condição de homem ou
mulher se delineia mediante a interação de três aspectos fundamentais: “A
identidade sexual, o papel sexual e a orientação sexual. A primeira se refere à
percepção individual e à consciência pessoal de ser homem ou mulher; o papel
sexual é o comportamento que o indivíduo denota e que o identifica perante os
outros como homem ou mulher; a orientação sexual se refere à atração erótica
que um indivíduo sente por homens ou mulheres”. Neste sentido, “o candidato
estará mais ou menos apto na medida em que se entender pessoalmente como
heterossexual, em que viver assim e se der a conhecer como tal perante os
outros”.[xci]
No
entanto, são primordialmente razões teológicas que também evidenciam a
homossexualidade como impedimento real e objetivo para a Ordenação. É
significativo, porém, constatar que tais razões estão praticamente ausentes na
discussão atual ou não são levadas a sério nem mesmo pelos teólogos. Em razão
da ausência quase total da perspectiva teológica, uma importante dimensão
permanece em grande medida desfocada e desconsiderada. A pergunta se a
homossexualidade constitui um impedimento concreto à Ordenação não pode ser
respondida exclusivamente com base em descobertas psicológicas, científicas,
nem tampouco em considerações pragmáticas. A Igreja tem de introduzir, com mais
vigor, sua especificidade originária e apresentá-la de forma mais incisiva. Até
o presente, isso foi alcançado apenas de modo insuficiente.
O
sacerdote, que atua in persona Christi capitis, tem de representar
Cristo não apenas como pessoa, mas fazê-lo por meio de um agir especificamente
masculino: em seu agir como “noivo” perante sua “noiva”, a Igreja. Se o sinal
tem de ser semelhante à realidade sinalizada, cumpre perguntar se um homem com
tendências homossexuais é capaz, de fato, de representar Cristo nesse agir
específico como “noivo” perante sua “noiva”, porque essa relação é algo
estranho para ele. Se nem o sentido nem o simbolismo do sacramento da
Ordenação, com seu pano de fundo masculino-feminino, nem tampouco dados
antropológicos fundamentais devem ser obscurecidos, desfocados,
consequentemente negados, através de uma identificação pública com a cultura
gay ou de uma valorização da própria homossexualidade como fonte positiva, isso
pressupõe a masculinidade heterossexual não somente como radicalmente mais
sensata, mas até mesmo como imperiosa.[xcii]
Parece hoje mais necessário do que nunca exigir um pensamento lógico coerente
na tarefa de fazer teologia.
As
vítimas do abuso sexual de clérigos e religiosos, que, em sua suprema maioria,
são adolescentes pós-pubescentes masculinos, evidenciaram a homossexualidade
como um fator de risco que não pode ser negado nem subestimado, sobretudo se
levarmos em conta o alto índice de recaídas.[xciii]
A utilidade do futuro sacerdote para o serviço da Igreja, demandada segundo c.
1025, parágrafo 2 CIC e entendida como possibilidade de ser apropriadamente
empregada e não como periculosidade para a Igreja e para as pessoas a ela
confiadas, deve consequentemente ser avaliada no mínimo como fortemente
restrita no caso de candidatos à Ordenação com tendências homossexuais, porque
sua atuação em áreas vitais para a Igreja, como a pastoral com crianças e
jovens, precisa, por princípio, ser classificada como um risco. O respeito por
pessoas que foram confiadas à Igreja, bem como a proteção de sua integridade
física e moral têm prioridade absoluta diante dos sentimentos de homens com
tendência homossexual, que se sentem magoados e tratados injustamente pela
não-admissão para a Ordenação. A atuação na pastoral de casais e da família
pressupõe a fundamental aptidão para o matrimônio e a família por parte do
sacerdote e, consequentemente, a masculinidade heterossexual. Ela é condição
irrenunciável para um trabalho frutífero com casais e com aqueles que se preparam
para o matrimônio.
A
promessa do celibato, a ser feita conforme c. 1037 CIC, antes da Ordenação, não
apenas tem por conteúdo o compromisso da abstinência sexual, mas também a
renúncia genuína ao bem natural do matrimônio e da família. Também essa renúncia
pressupõe por princípio a masculinidade heterossexual. Homens com tendências
homossexuais não conseguem, pois, cumprir essa condição prévia para a ordenação
lícita, visto que são incapazes de cumpri-la, a não ser que se considere, ao
menos indiretamente, ou até mesmo se confirme, a possibilidade do chamado
“casamento gay”. Ademais, existem indícios inequívocos de que viver a
abstinência sexual é mais difícil para homens com tendências homossexuais do
que para heterossexuais.
Considerando-se
que o sacramento da Ordem não é conferido e recebido para suprir carências
pessoais nem para compensar déficits,[xciv]
homens com tendências homossexuais não podem ser admitidos à ordenação, já que
a homossexualidade representa uma desordem objetiva e precisa ser definida como
sexualidade deficitária.[xcv]
Como enfermidade psíquica, a homossexualidade deve ser entendida no sentido dos
cc. 1041, n.1, e 1044, parágrafo 2, n. 2 CIC. Primeiro, por causa do grave
bloqueio da comunicação interpessoal, que se manifesta no estabelecimento de
contatos distorcidos com homens e mulheres e que não pode ser compensado por
comportamento sensível, empático ou amistoso. Segundo, conforme c. 1031,
parágrafo 1º CIC, por causa da inexistente, mas necessária maturidade
suficiente correlata, que se manifesta, muitas vezes, num comportamento
narcisista, egocêntrico, predominantemente emocional e também sexualmente
promíscuo, que aponta “para uma ausência geral de consciência do pecado”.[xcvi]
Isso, no mínimo, constitui um forte entrave para um exercício frutífero do
ministério, quando não incapacita para ele.
A
Instrução de 29 de novembro de 2005[xcvii]
que, conforme Tony Anatrella, foi solicitada de Roma por muitos bispos de todo
o mundo, por ocasião de suas visitas ad limina, bem como por reitores de
seminários e responsáveis pela pastoral vocacional,[xcviii]
tornou explícita e inequívoca a proibição já contida implicitamente no CIC para
homens com tendências homossexuais. Tal proibição deixa claro que a superação
total de tendências homossexuais constitui uma premissa indispensável para a
Ordenação. Com efeito, não se trata apenas de uma abstinência sexual de três
anos antes da Ordenação Diaconal, por parte de homens que continuam com
tendências homossexuais.
A
Instrução não enfoca a homossexualidade apenas como um problema de ordem
sexual, mas como um problema mais abrangente. É o que fica evidente quando o
referido documento afirma que a homossexualidade tolhe “gravemente” o
estabelecimento de relações corretas com homens e mulheres, algo que, no
entanto, é imprescindível para o desenvolvimento de uma autêntica paternidade
espiritual. Assim, evita-se um enfoque unilateral sobre a “capacidade de
abstinência sexual” como critério decisivo de avaliação e de admissão à
Ordenação. Não se trata apenas de considerar apto aquele candidato ao
presbiterato que se mostra capaz de levar uma vida sexualmente abstinente. Sem
dúvida, essa questão é relevante, mas é preciso ponderar algumas outras coisas.
“Tendências homossexuais não são pulsões isoladas, mas sintomas de um déficit
geral no desenvolvimento emocional de uma pessoa rumo à masculinidade ou
feminilidade plenas. Isso não constitui um aspecto subordinado ou secundário da
psique. Ser homem ou mulher é parte da substância de nossa natureza
intelectual, parte de nossa identidade pessoal”.[xcix]
Também um
deslocamento unilateral da problemática para o foro íntimo recebe uma negativa
na Instrução. “Embora a Instrução esteja totalmente certa em sua convocatória a
cada um desses candidatos, de tal maneira que os mesmos não prossigam, em sã
consciência, na trajetória para a Ordenação, bem como na exigência de
influência pessoal por parte dos acompanhantes espirituais vinculados ao foro
íntimo, também dependerá do conhecimento humano vinculado à realidade e
comprovado por vários anos dos responsáveis últimos… se tais tendências sexuais
contraproducentes são notadas em tempo… Não por último cabe grande importância
também à respectiva comunidade do seminário e da ordem religiosa como tal.
Aqui, não se trata de um ‘sistema de espionagem’, mas antes está em jogo que
observações relevantes auto-evidentes dos que convivem em casas religiosas
também sejam acolhidas com seriedade pelos superiores. Não pode mais acontecer
que testemunhas sejam forçadas, ‘por razões de política eclesiástica’, a
esquecer e mentir ou sofram desvantagens, ou até mesmo uma clássica pressão
difamatória, apenas porque comunicam ou comunicaram algo claramente detectado,
segundo seu melhor conhecimento e da mais sã consciência”[c].
Quanto à
questão das provas e da possibilidade de comprovação de “tendências
homossexuais profundamente arraigadas”, que Dom Klaus Küng, bispo diocesano de
St. Pölten (Áustria), em um posicionamento acerca da Instrução, definiu
acertadamente como “uma orientação homossexual que retrocede até a infância e
levou a uma forte marca na personalidade”,[ci]
não é necessário que se tenha de apresentar a alguém provas diretas, mas bastam
“claros indícios secundários que, frequentemente, no quadro geral, não apenas
suscitam dúvidas sobre a aptidão de um candidato, mas, muitas vezes, também
levam a uma certeza moral correspondente, a saber, de que, a médio prazo, esse
determinado candidato sucumbiria à tentação homossexual permanente que habita
sua interioridade. A Instrução versa sobre toda a questão de modo conciso e
sábio. No entanto, igualmente é preciso que seja aceitável, com certeza moral,
a comprovação dos três anos absolutamente livres de indícios homossexuais antes
da Ordenação Diaconal. Neste contexto, cabe citar expressamente aquela passagem
da Instrução que diz: ‘No caso de séria dúvida, nesse aspecto, o bispo ou
superior não pode admiti-lo à ordenação’”.[cii]
Do teor
da Instrução, cabe concluir que ela não deixa espaço para a ordenação de homens
que não superaram inequivocamente suas tendências homossexuais, vivenciadas ou
não, e que não experimentaram uma clara mudança na direção da
heterossexualidade. Nesse sentido, a proibição da Ordenação para homens com
tendências homossexuais é absoluta. Sua admissão à Ordenação de forma alguma é
relegada ao espaço da deliberação dos superiores competentes. A Instrução
precisa ser acatada como ordem estrita e concretizada na prática da formação
presbiteral.[ciii]
Assim, predomina a segurança jurídica no que tange a esse ponto
controversamente discutido.
Cabe
unicamente à Igreja o veredicto sobre quem é chamado ao ministério ordenado.
Este não cabe a homens que não superaram inequivocamente suas tendências
homossexuais e não experimentaram uma clara mudança na direção da
heterossexualidade. Isso não tem nada a ver com proibição vocacional, com
discriminação ou homofobia. É insuficiente a “impressão” de uma inclinação ao
sacerdócio ou o desejo pessoal por ele, a partir do qual se quer, hoje, muitas
vezes, reivindicar um direito ao ministério ordenado. O que se requer é,
sobretudo, a aptidão necessária para o ministério e seu exercício sensato e
frutífero. Com efeito, a Igreja, apoiada em percepções teológicas e nas
ciências humanas, bem como em experiências concretas do passado recente, não
considera essa aptidão suficientemente assegurada em homens com tendências homossexuais.
A igual dignidade de todos os seres humanos não significa que todos tenham o
mesmo status, as mesmas qualidades e a mesma competência para serem
admitidos às Ordens Sacras.
6.
Sugestões e perspectivas
A
homossexualidade não é coadunável com o sacramento da Ordem, a menos que se
queira estabelecer na Igreja e na teologia múltiplas contradições de
legitimação. Um esclarecimento também sob o aspecto jurídico e, em última
análise, legal constitui o melhor auxílio à verdade, a única que liberta. Por isso,
a homossexualidade deve ser citada expressamente como impedimento à Ordenação,
sendo como tal inserida nas determinações canônicas pertinentes. De acordo com
a Carta Apostólica Ad Tuendam Fidem, do Papa João Paulo II, de 18 de
maio de 1998, por meio da qual os dois Códigos foram complementados com normas
importantes, uma nova complementação do CIC, por meio de uma lei papal, já não
seria nada de extraordinário. Além disso, uma lei dessas sublinharia, de forma
melhor e mais inequívoca, a importância e a necessidade dessa determinação para
a Igreja, particularmente para o ministério ordenado, que a Instrução de um
dicastério do Vaticano, ainda que ela tenha sido aprovada pelo Papa e que o
mesmo tenha ordenado sua publicação. Não obstante, persiste a pergunta se essa
justificada proibição da Ordenação ainda pode realmente ser concretizada, em
vista dos numerosos adversários que evidentemente existem até nos mais altos
círculos eclesiásticos.[civ]
Proibições
e documentos isolados não bastam. Entre as autoridades competentes, deve haver,
em primeiro lugar, uma vontade de realmente analisar objetivamente a
problemática, tratá-la com seriedade e tentar solucioná-la aberta e
resolutamente, sem jamais silenciá-la, declará-la inócua e procrastiná-la, como
vem acontecendo, na maioria dos casos, até aqui. Tampouco a questão pode ser
deslocada unilateralmente ao forum internum, visto que, ao lado do
aspecto da inclinação, no caso de uma vocação ao ministério ordenado, permanece
insuficientemente iluminado o necessário aspecto da aptidão de um candidato à
ordenação.
A
comprovação da superação cabal das tendências homossexuais rumo à
heterossexualidade, exigida pela Instrução mediante uma fase mínima de três
anos de comportamento e sentimentos íntimos duradouramente mudados, deveria ser
apresentada antes do ingresso no seminário ou centro de formação. A vantagem de
um procedimento desse tipo seria uma atratividade consideravelmente reduzida do
seminário ou do centro de formação para homens com tendências homossexuais.
Desse modo, as sub-culturas e redes homossexuais seriam, em boa parte, privadas
de seu solo de sustentação.
A
clarificação interna da problemática assinalada tampouco pode ser deixada por
conta do clero. Os fiéis, como diretamente atingidos, não apenas têm o dever,
mas também o direito de dar sua contribuição. Para tanto, há necessidade de uma
regulamentação legal, visto que essa contribuição não deve depender da
benevolência daqueles que, na Igreja, são responsáveis pela questão. Pode-se
imaginar uma comissão que trabalha, em cada nível nacional e de forma
independente da conferência episcopal, com as seguintes características e
atribuições: exclusivamente leigos que estejam comprometidos com a Igreja,
imbuídos de sua doutrina e cujo procedimento esteja em conformidade com ela.
Via de regra, leigos casados no mínimo há 10 anos, devidamente nomeados pela
Santa Sé, após consulta às conferências episcopais. Ao presidente da comissão,
caberá a elaboração de um relatório anual, que, depois de ter sido comunicado a
conferência episcopal, será levado ao conhecimento da Santa Sé. A relevância de
uma comissão como essa seria, por um lado, o fato de que sua simples existência
exerceria uma pressão “sadia” sobre os superiores eclesiásticos competentes
para corresponderem, de forma mais resoluta e rápida, à sua competência
diretiva, ao invés de, muitas vezes, reagir apenas com hesitação à pressão de
fora. Por outro lado, a comissão, como elo de ligação com a base e a opinião
pública, poderia prevenir muitas coisas e eliminar dificuldades já no status
nascendi.
Conforme
D. Cozzens, a crise espiritual do sacerdócio e, consequentemente, também a
crise espiritual da Igreja são, em parte, uma crise de orientação sexual. “Mais
cedo ou mais tarde, essa questão será tratada com mais objetividade que nas
últimas décadas do séc. XX. Mas, quanto mais tempo demorar, tanto maior será o
dano para o sacerdócio e para a Igreja”.[cv]
O
homossexualismo é contraproducente e destrutivo espiritual, psicológica e
socialmente, para a saúde daqueles que o praticam e a família, para o
sacerdócio e, consequentemente, para a Igreja. Com isso, não se afirma que a
heterossexualidade como tal capacite automaticamente para o exercício do ministério
ordenado na Igreja. Também em relação ao posicionamento frente à
heterossexualidade e sua prática, no que tange à admissão à Ordenação, é
preciso que os critérios bíblico-teológicos da Igreja sejam afirmados e
vivenciados.
Esta
análise significa para a responsabilidade pastoral da Igreja nesta situação
difícil um enorme desafio. Ela tem como finalidade precípua desencadear um
debate sério, profundo e amplo, tentando vencer o clima de tabu que muitas
vezes envolve tal temática. Somente no diálogo sobre seus desafios a Igreja
pode caminhar em busca da verdade, da qual procura sempre ser parceira na
história. Para a Igreja não se trata somente de tirar consequências claras no
sentido de defesa de sua posição. Ao mesmo tempo ela tem que oferecer às pessoas
envolvidas – padres, religiosos e leigos – terapias adequadas. Exatamente isso
vai se revelar para todos como bênção.
Endereço
do Autor:
Rua Padre
Rossini Cândido, 157
Coração
Eucarístico
30535-500
Belo Horizonte – MG / BRASIL
Fone:
(31) 91175530
E-mail: p.dr.mettler@hotmail.com
[i].
O autor nasceu 1955 in Morbach / Alemanha, ingressou 1974 na Congregação dos
Missionários da Sagrada Família (MSF) e foi ordenando presbítero em 1981. Em
1988 chegou ao Brasil e trabalhou até 2001 em várias paróquias e na reserva
indígena Xakriabá no Norte de Minas Gerais, nas dioceses de Januária e Janaúba.
No
“Instituto Superior do Direito Canônico” da Arquidiocese de Rio de Janeiro,
agregado a Gregoriana em Roma, fez em 2003 o Mestrado em Direito Canônico. Em
2007 concluiu o doutorado em Teologia Pastoral e Direito Canônico em
Fribourgo / Alemanha.
Atualmente
trabalha como Professor de Direito Canônico no ISTA, como juiz e auditor no
Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Belo Horizonte e como capelão das
Servas do Santíssimo Sacramento.
[ii].
CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, Instrução sobre os critérios de
discernimento vocacional acerca das pessoas com tendências homossexuais e da
sua admissão ao seminário e às ordens sacras. Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_20051104_istruzione_po.html.
[iii].
Ibid.
[iv].
“Kardinal Bertone: Homosexuelle dürfen nicht zum Priester geweiht werden”,
disponível em: www.kath.net/detail.php?=19885.
[v]
CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA: Diretrizes para a utilização da
Psicologia na admissão e formação de candidatos ao sacerdócio, disponível
em: www.zenit.org/article-16301?!=portuguese.
[vi]. Cf. Ibid.
[vii]. P. METTLER, Die Berufung zum Amt im Konfliktfeld von Eignung und
Neigung. Eine
Studie aus pastoraltheologischer und kanonistischer Perspektive, ob
Homosexualität ein objektives Weihehindernis ist [A vocação para o ministério
ordenado no campo conflitante de aptidão e inclinação. Um estudo, a partir de
uma perspectiva teológica-pastoral e canônica, se o homossexualismo constitui
um impedimento objetivo à ordenação], Frankfurt am Main, 2008.
[viii].
Em termos de princípio e de conteúdo, reitera-se dois documentos publicados
antes do Concílio Vaticano II. Na carta circular Magna Equidem, de
27 de dezembro de 1955, sobre os escrutínios, a então Sagrada Congregação para
a Disciplina dos Sacramentos declarou que candidatos que sofrerem de defeitos
sexuais ou psíquicos não podem ser admitidos às ordenações. A carta cita
expressamnente pessoas com sentimentos homossexuais como excluídos da
ordenação, em: X. OCHOA, Leges Ecclesiae post Codicem Iuris Canonici editae,
t. II, Roma 1969, n. 2542. Mais enfática ainda é uma Instrução da então Sagrada
Congregação para os Assuntos dos Religiosos, de 2 de fevereiro de 1961: “A
admissão aos votos e à ordenação sacerdotal será vedada a todos os que lutam
contra tendências malignas como homossexualismo e pederastia, porque acarretam
sérios perigos para a vida cotidiana e o ministério sacerdotal”, em: X. OCHOA, Leges
Ecclesiae post Codicem Iuris Canonici editae, t. III, Roma 1972, n. 2962.
[ix]. Cf. H. LACHENMANN, “Ich will alles, und das sofort”: Paradise now! Die
“neue Ideologie des Bösen”, em: Die Tagespost, 08-10-2005, p. 12s, 13.
[x]. Cf. R.-A.THIEKE, “Der gewollte Kulturbruch – Ideologie und Strategie
der Schwulenbewegung”, em: Idea-Dokumentation 2 “Kirche-Kultur-Homosexualität”,
Wetzlar 2003, p. 53ss, 53.
[xi]. Cf. P.E. RONDEAU, “Wie Homosexualität in den USA vermarktet wird”, em:
Deutsches Institut für Jugend und Gesellschaft (ed.), Bulletin Nr. 8,
Reichelsheim 2004, p. 3-28, 49-59.
[xii]. Cf. METTLER, Amt, p. 43-70.
[xiii]. S. BAIER, Ein Sieg für die Schwulenlobby. Das Europaparlament spricht sich
gegen “Homophobie” aus. Gravierende Konsequenzen möglich, disponível em: www.die-tagespost.de/Archiv/titel_anzeige.asp?ID=20513.
[xiv].
BAIER, Schwulenlobby.
[xv].
Cf. “Lei da Homofobia” no Brasil implicaria perseguição religiosa”, disponível
em:
[xvi]. Ibid.
[xvii]. D. PRAGER, em: G. KUBY, Ausbruch zur Liebe. Für junge Leute die
Zukunft wollen, Kissleg (D) 2005, p. 215.
[xviii]. Em carta
de 23 de julho de 1992, dirigida aos bispos dos EUA, a Congregação para a
Doutrina da Fé afirma que existem áreas em que não se pode falar de
discriminação injusta, quando se leva em conta a orientação sexual, por
exemplo, na adoção ou no direito de guarda de crianças, na contratação de
docentes, professores esportivos ou no serviço militar. “A ‘orientação sexual’
não representa uma orientação comparável à raça, ao grupo étnico etc., no que
tange à não-discriminação… Incluir a ‘orientação homossexual’ em ponderações
segundo as quais qualquer discriminação é contrária à lei, facilmente poderá
levar a que se considere o homossexualismo como fonte positiva de direitos
humanos… Isso é tanto mais nefasto pelo fato de não haver um direito ao
homossexualismo, que por isso não pode alegar nenhum fundamento legal para
exigências de direito. Esse passo até o reconhecimento do homossexualismo como
elemento determinante, sobre cuja base a discriminação é contrária à lei, pode
levar facilmente, se não até mesmo automaticamente, à proteção legal e à
propagação do homossexualismo.” Kongregation für die
Glaubenslehre: Anmerkungen zur rechtlichen Nicht-Diskriminierung
Homosexueller”, em: Die Tagespost, 14-08-1992, p. 8.
Para T.
Anatrella, o homossexualismo não é “sujeito de direitos, por não possuir valor
social.” T. ANATRELLA, “Omosessualitá e Omophobia”, em: Pontificio Consiglio
per la Famiglia (ed.), Lexicon. Termini ambigui e discussi su famiglia, vita
e questioni etiche, Bologna 2003, p. 685-697, 696.
[xix]. LACHENMANN, Paradise, p. 13.
[xx]. Cf. João Paulo II, Erinnerung und Identität. Gespräche an der
Schwelle zwischen den Jahrtausenden, Augsburgo 2005, p. 18-27.
[xxi].
João Paulo II, Identität, p. 26. Conforme o papa Bento XVI, configura-se
uma “ditadura do relativismo, na qual nada é reconhecido como definitivo e que
admite como parâmetro último somente o próprio eu e seus desejos” “Es entsteht
eine Diktatur des Relativismus”), disponível em: www.die-tagespost.com/archiv/titel_anzeige.asp.?ID=13495
[xxii]. J. SEIFERT, “Familie, Homosexualität und Staat”, em: Mut zur Ethik.
Schutz der Familie und der heranwachsenden Jugend. II Kongress Mut zur
Ethik vom 23. bis 25. September
1994, Feldkirch (Zurique) 1994, p. 209-233, 224.
[xxiii].
A asserção sempre de novo disseminada, segundo a qual 10% teriam sentimentos
homossexuais é pura propaganda, um mito, como a própria C. Paglia – um ícone do
movimento gay – admite: “a quota dos dez por cento, que é prontamente repetida
pelos meios de comunicação, era pura propaganda. Como cientista, ignoro que
ativistas do homossexualismo desprezem, tão sem escrúpulos, a verdade. Pessoas
que vivem homossexualmente sabem muito bem que justamente não é gay cada décimo
homem com que se encontram” (C. PAGLIA, Vamps e Tramps, Nova Iorque
1994, p. 74). O estudo EUROGAY-EMNID, de 2001, chega a 1,3% entre os homens e
0,6% entre as mulheres que se consideram pessoalmente como homossexuais. Cf. C. WAGNER et al., Erfassung von sexueller Orientierung und
Prävalenz von Homosexualität und Bisexualität, disponível em: www.crossmarketing.de/pdf/abstract2.pdf. Trata-se
de um resultado realmente assombroso. Evidentemente, o número de homossexuais é
menor que o sugerido pela “onda gay da moda” (Cf. A. GATTERBURG / A. HAEGELE,
“Exoten: witzig und wohlhabend”, em: Der Spiegel, 26-03-2001, p. 80s).
[xxiv]. R. SIPE, Sexualität und Zölibat. Paderborn 1992, p. 137.
[xxv]. R. SIPE, Sex, Priest and Power. Anatomy of a crisis, Nova
Iorque 1995, p. 77.
[xxvi]. D. COZZENS, Das Priesteramt im Wandel. Chancen und Perspektiven,
Mainz 2003.
[xxvii]. Cf. ibid., p. 131.
[xxviii]. D. COZZENS, Sacred Silence, Collegeville 2004, p. 128.
[xxix]. Cf. METTLER, Amt, p. 96-102.
[xxx].
“Legalisierung des Bösen”, disponível em: www.spiegel.de/0,1518,259723,00.html.
Em uma
entrevista à revista Spiegel, a 25 de novembro de 2005, o jesuíta H. Kügler
classificou a Igreja Católica Romana como a “maior organização gay
transnacional” (cf. H. KÜGLER, “Katholische Kirche ist die grösste transnationale
Schwulenorganisation”), disponível em: www.spiegel.de/panorama/0,1518,386709,00.html.
[xxxi]. Cf. M. THEOBALD, Der Römerbrief, Darmstadt 2000, p. 145. Outros exemplos em: A. LAUN,
(ed.), Homosexualität aus katholischer Sicht, Eichstätt 2001.
[xxxii]. W. MÜLLER, Art. “Homosexualität”, em: LThK, 3ª ed., vol. 5, p.
260s.
[xxxiii]. Cf. B. FRALING, Sexualethik. Ein Versuch aus christlicher Sicht,
Paderborn 1995, p. 239.
[xxxiv]. Citação conforme K. LIEBER, “Aids ist keine Gottesstrafe”, em:
BRÜCKENBAUER (Zurique), de 18-02-1987, p. 3.
[xxxv].
U. ENGEL, “Ja, mein Erbe gefällt mir gut.” Skizzen zu einer Gay-Spiritualität,
em: Wort und Antwort 39 (1998) 78-87; H. Kügler avalia essas
considerações de Engel como “uma das poucas tentativas bem-sucedidas de uma
teologia especificamente gay” (H. KÜGLER, Gelebte Sexualität als
Transzendenzerfahrung, em: Themenzentrierte Interaktion 2 (1999)
255-259, 259). Acerca da exigência de que, no âmbito feminista, também deveria
haver uma teologia homossexual, observa com razão R. Slenczka: “Nisso, já se
mostra aquela compreensão equivocada de teologia, que não se orienta mais na
Palavra de Deus, mas deve ser articulada com as experiências e os problemas da
época. Dessa maneira, a teologia é transformada em ideologia” (R. SLENCZKA, Zur
Beurteilung homosexueller Beziehungen nach dem Wort Gottes, em: Homiletisch-Liturgisches
Korrespondenzblatt – Neue Folge 27 (1990), p. 301-305, 301).
[xxxvi]. M.S. ROSE, GoodBye! Good Men! How Catholic Seminaries Turned Away
Two Generations of Vocations from the Priesthood, Cincinatti 2002, p. 51.
[xxxvii].
“De acordo com ex-seminaristas e sacerdotes novos, essa subcultura homossexual,
em certos seminários, é tão acentuada que essas instituições receberam apelidos
como Notre Flame (para o Seminário de Notre Dame, em Nova Orleães) e Theological
Closet (para o Theological College na Universidade Católica da América, em
Washington, D.C). O Seminário de St. Mary em Baltimore recebeu a alcunha de
“The Pink Palace” (ROSE, GoodBye, p. 92).
[xxxviii].
R. Wagner, sacerdote e religioso católico dos EUA, ele próprio envolvido
existencialmente, escreve em um estudo: “Há uma rede informal dos sacerdotes
gays em praticamente todas as regiões do país. Essa rede foi utilizada para
conquistar os entrevistados para a pesquisa. Um empenho considerável de tempo e
energia foi necessário para compor uma amostragem com a maior amplitude
geográfica possível. O começo foi estabelecer contato em diferentes partes do
país com sacerdotes que ocupam posições-chave nas redes. Esses, por sua vez, exerceram
a função de mediadores em sua área” (R. WAGNER, “Schwule katholische Priester
in den USA: Empirische Untersuchung einer Dissonanz zwischen Pflicht und
Neigung”, em: R. GINDORF/E.J. HAEBERLE (eds.), Sexualwissenschaft und
Sexualpolitik. (Schriftenreihe Sozialwissenschaftliche Sexualforschung 3),
Berlim / Nova Iorque 1992, p. 195-250, 203).
[xxxix].
Cf. R. EINIG, “Die Autorität der Bischöfe steht auf dem Spiel. Amerikanischer Episkopat beginnt Beratungen über sexuellen Missbrauch
durch Priester – Die Wurzeln liegen in der Dissenskultur der Kirche”, em: Die
Tagespost, de 11-06-2002, p. 1.
[xl]. R. EINIG, “Rosa Revolution auf dem Campus. Studie vor dem Papstbesuch
in den Vereinigten Staaten: Die Homosexuellenbewegung hat katholische
Hochschulen unterwandert”, disponível em: www.die-tagespost.de/archiv/titel_anzeige.asp?ID=39403.
[xli]. Cf. J. BERRY, Lead us not in temptation. Catholic priests and the
sexual abuse of children, Chicago 2000, p. 183.
[xlii].
O que foi apurado para a Igreja Católica Romana vale, de forma similar, para as
Igrejas Anglicanas e Evangélicas, que assim são confrontadas com um teste de
ruptura que pode levar a um cisma (cf. METTLER, Amt, p. 124-132).
[xliii]. “Seminary Reform Needed in Wake of Sex Abuse Study. Dr. Rick
Fitzgibbons Suggests Programs of Priest, Religious, Seminarians”, disponível
em: www.zenit.org/english/visualizza.phtml?sid=52897. Também
dados de centros terapêuticos na Irlanda, bem como as averiguações de Sountdown
(Canadá), do St. Luke’s Institute (Washington) e das John Hopkins Sexual
Disorder Clinics (Baltimore) nos EUA, constatam unanimemente que a maioria dos
sacerdotes que abusam de menores prefere como parceiros sexuais jovens rapazes
após a puberdade (cf. E. CONWAY, Theologien des Priesteramts und ihr möglicher
Einfluss auf sexuellen Kindesmissbrauch, em: Concilium 40 (2004)
308-322, nota 9).
[xliv].
A. MOSER, Pedofilia: primeiras reações e interpelações, em: REB 62
(2002) 515-547, 520.
[xlv]. Cf. METTLER, Amt, p. 134-207.
[xlvi].
Nas determinações punitivas da Bíblia contra o homossexualismo, não se trata,
segundo Schoeps, de determinações de caráter ético, mas apenas de ritos de
culto. Seria uma “piada tardia da história das religiões” pretender derivar
desses fatos uma rejeição genérica do homossexualismo. “Não, a suposta
proibição divina expressa na Bíblia contra o homossexualismo é um mito – mais
precisamente um mito falso”. H.J. SCHOEPS, “Überlegungen zum Problem der
Homosexualität”, em: ID. et al., Der homosexuelle Nächste. Ein Symposium,
Hamburgo 1963, p. 74-114, 88.
[xlvii].
W. FÜHRER, “‘Irregeleitete Kirche.’ Eine exegetisch-theologische Überprüfung
der Synodalbeschlüsse zur Segnung homosexueller Partnerschaften in Gliedkirchen
der EKD”, em: Idea-Dokumentation 3 “Irregeleite Kirche”, Wetzlar 2003,
p. 1-23, 8.
[xlviii].
A. MOSER, O Enigma da Esfinge. A sexualidade. Petrópolis 2001, p. 240.
[xlix].
Conforme H. Lutterbach, esse silêncio de forma alguma foi entendido pelos
primeiros cristãos no sentido de um consentimento da prática de relacionamentos
entre os mesmos sexos (cf. H. LUTTERBACH, Gleichgeschlechtliches sexuelles
Verhalten: ein Tabu zwischen Spätantike und früher Neuzeit, em: Historische
Zeitschrift 267 (1998) 281-311, 286).
[l].
Com freqüência, se diferencia entre “casca devida à época” e “cerne” da Sagrada
Escritura, “válido para além da época”. “No primeiro caso, trata-se de afirmações
da Bíblia que podemos muito bem ‘esquecer’ literalmente. São condicionadas por
uma época atrasada em suas opiniões. Dentro delas, porém, encontram-se outras
convicções que possuem um significado supratemporal, eterno, que também
continuam válidas conforme o entendimento de hoje, medidas por critérios
atuais, ou seja, que não são condicionadas pela época, mas contemporâneas,
condizentes com nosso tempo”. Essa distinção casca-cerne, no entanto, pressupõe
uma posição supra-histórica. “Quem como sujeito histórico, em vista de
documentos do passado, acredita ser capaz de distinguir, principalmente no que
tange a textos bíblicos, entre condicionado pela época e eternamente válido,
está pressupondo como verdadeiros, corretos e superiores os critérios de seu próprio
tempo, raciocinando, assim, flagrantemente de forma não-histórica: como se a
própria época também não fosse condicionada por seu tempo em relação às suas
opiniões” (H. HEMPELMANN, “Die Autorität der Heiligen Schrift und die Quellen
theologischer Grundentscheidungen”, em: Homosexualität und christliche
Seelsorge. Dokumentation eines ökumenischen Symposiums, Neukirchen-Vluyn
1995, p. 238-261, 250).
[li].
L. HOGAN, “Homosexualität im Alten und Neuen Testament”, em: A. LAUN, (ed.), Homosexualität
aus katholischer Sicht, Eichstätt 2001, p. 151-160, 151.
[lii].
W. PANNENBERG, Homosexualität. Massstäbe zur christlichen Urteilsbildung, em:
Weisses Kreuz e. V. (ed.), Sexualethik und Seelsorge, Nº 95/96, 2/3
(1994) 4.
[liii]. LACHENMANN, Paradise, p. 13.
[liv]. Na sétima
estação das meditações da via crucis, realizadas pelo arcebispo Comastri
e que aconteceram sob a presidência do Papa Bento XVI, na Sexta-Feira da Paixão
de 2006, no Coliseu de Roma, lemos: “Com certeza, o ataque à família constitui
um doloroso sofrimento de Deus. Parece que existe hoje uma espécie de
antigênesis, um contraprojeto, um orgulho diabólico, que visa eliminar a
família. O ser humano pretende reinventar a família, deseja mudar a gramática
da própria vida, concebida e intencionada por Deus. Contudo colocar-se no lugar
de Deus, sem ser Deus, é a mais tola arrogância, é a mais perigosa aventura” (Kreuzweg
2006, disponível em: www.kath.net/detail.php?id=13380).
[lv].
BENTO XVI, Balanço de 2008, com a Jornada de Sydney como Eixo, disponível em: www.zenit.org/article-20422?!=portuguese.
[lvi]. Ibid.
[lvii]. Cf. METTLER, Amt, p. 191-203.
[lviii].
A Igreja se esforçou, num passado recente, em explicar sua atitude perante a
homossexualidade e mostrar caminhos de uma prática pastoral apropriada. Sinais
desse esforço são nada menos que 8 documentos, nos quais o Magistério se
manifestou com autoridade, entre 1975 e 2003, sobre o tema da homossexualidade
e aspectos correlatos (cf. Ibid. p. 204-207).
[lix]. Cf. Ibid., p. 32ss.
[lx]. Cf. THIEKE, Kulturbruch, p. 53.
[lxi]. Cf. METTLER, Amt, p. 208-224.
[lxii]. M. DANNECKER, “Sexualwissenschaftliches Gutachten für die
Bundesregierung”, em: J. BASEDOW et al., Die Rechtstellung
gleichgeschlechtlicher Lebensgemeinschaften, Tübingen 2000, p. 335-350,
339.
[lxiii]. D.H. HAMER / P. COOPELAND, Living with our genes, Nova Iorque /
Londres 1994, p. 198.
[lxiv].
O ativista gay A. Sullivan descreve como auto-engano acreditar que o
homossexualismo é transmitido como a cor dos cabelos. ”Sem dúvida seria
bem-vindo aos gays se a ‘analogia’ dos cabelos fosse correta, porque isso os
eximiria da auto-análise, que muitas vezes é tão dolorosa, com a qual teriam de
se confrontar em caso contrário. Lamentavelmente, porém, ela não é correta”. E
admite: “Certamente seria estranho se influências do meio não tivessem também
uma importância especial” (A. SULLIVAN, Love Undedectable: Notes on
Friendship, Sex and Survival, New York 1998, p. 164). Também Peter
Tatchell, conhecido ativista do movimento gay, reconheceu recentemente: “Genes
e hormônios podem predispor uma pessoa para determinada orientação sexual. Mas
isso não é tudo. Predisposição e fixação são duas coisas diversas.” P. TATCHELL, “Führender Homo-Aktivist: Es gibt kein ‘Gay-Gen’”,
disponível em: www.kath.net/detail.php?id=20536.
[lxv]. G. VAN DEN AARDWEG, The biological base of Homosexuality: not solid
evidence, much misleading speculation, em: Narth-Bulletin 2004. Contra o perigo de mesclar
ativismo gay e ciência, bem como contra as consequências, adverte enfaticamente
a já citada ativista homossexual, C. Paglia: “Devíamos estar conscientes da
possível mistura nociva de ativismo gay e ciência, que produz mais propaganda
que verdade. Cientistas homossexuais precisam ser primordialmente cientistas,
homossexuais somente em segundo lugar” (PAGLIA, Vamps, p. 78).
[lxvi].
U. EIBACH, Gleichgeschlechtliche Liebe – Gleichwertigkeit der Lebensformen der
Geschlechter?, em: Pastoraltheologie, Monatsschrift für Wissenschaft und
Praxis in Kirche und Gesellschaft 87 (1998) 155-167, 157.
[lxvii]. Cf. METTLER, Amt, p. 224-243.
[lxviii]. Cf. H. SCHULTZ-HENKE, Über Homosexualität, em: Zeitschrift für die
gesamte Neurologie und Psychiatrie 140 (1932) 300-312, 300.
[lxix]. Cf. METTLER, Amt, p. 244-267.
[lxx]. Cf. G. VAN DEN AARDWEG, Das Drama des gewöhnlichen Homosexuellen.
Analyse und Therapie, Neukirchen, Stuttgart 1993, p. 156, Tabela 1; J.
NICOLOSI/L.A. NICOLOSI, A Parent’s Guide to Preventing Homosexuality,
Downers Grove 2002, p. 33s.
[lxxi]. Cf. S. FISHER / R.P. GREENBERG, Freud Scientifically Reapraised:
Testing the Theories and Therapy, Nova Iorque 1996.
[lxxii]. Cf. B. RITTER, Eine andere Art zu lieben? Zum Thema Kirche und
Homosexualität. Seelsorgliche Aspekte, Giessen/Basiléia 1993, p. 50.
[lxxiii]. Cf. AARDWEG, Drama, p. 111ss.
[lxxiv]. Cf. N.R. TULLER, “Couples: The hidden segment of the gay world”, em:
J.P. DE CECCO (ed.), Gay Relationships, Nova Iorque/Londres 1988, p.
45-60, 49.
[lxxv]. Cf. E.O. LAUMANN et al., The sexual organization of the city,
Chicago 2004.
[lxxvi]. M. DANNECKER / R. REICHE, Der gewöhnliche Homosexuelle. Eine
soziologische Untersuchung über männliche Homosexuelle in der Bundesrepublik,
Frankfurt am Main 1974, p. 236.
[lxxvii]. Cf. A.P. BELL / M.S. WEINBERG, Der Kinsey Institut Report über
weibliche und männliche Homosexualität, Zurique 1998, p. 18.
[lxxviii]. F. SUPPE, The Bell and Weinberg Study: future priorities for research
on homosexuality, em: Journal of Homosexuality 6 (1981) 69-97.
[lxxix]. T.E. SCHMIDT, “Der Preis der Liebe”, em: R. HILLIARD / W. GASSER, Homosexualität
verstehen 2. Medizinische, verhaltensgenetische und theologische Aspekte,
Zurique 1998, p. 4-23, 7.
[lxxx]. Cf. R.A. ISAY, Schwul sein, Munique 1990, p. 97ss.
[lxxxi].
Quando comparamos essas características de personalidade e formas de comportamento
com aqueles presbíteros e religiosos homossexuais que trabalham no Brasil,
identificados por G. Nasini à base de questionários, diálogos e observações
pessoais, não há como deixar de notar convergências nos pontos essenciais.
Logo, não se trata, de forma alguma, de observações isoladas, impossíveis de
generalizar, mas de concretizações confirmadoras. Nasini cita, inicialmente, um
sacerdote psicólogo do sul do Brasil, que descreve sacerdotes de tendências
homossexuais em pleno exercício do ministério da seguinte maneira: “Usualmente,
esses ministros (sacerdotes-religiosos ativos no ministério) são descritos por
seus colegas como inteligentes, de muita capacidade criativa e realizadora.
Conquistam facilmente as pessoas em geral. Sabem envolver os que estão à sua
volta, pois geralmente são simpáticos e prestativos. Mas, por outro lado, agem
furtivamente, sempre por baixo dos panos, deixando transparecer insatisfações
internas, frustrações afetivas e descontroles psico-emocionais. Buscam
preencher freneticamente os vazios através desse comportamento sexual. Eles
parecem ser pessoas espiritualistas e reflexivas, efeminados nos seus gestos e
com tendência à passividade, aceitam as coisas como elas se apresentam. São
pessoas muito informadas e com muitas influências. Gostam de bajular os
poderosos, de disfarçar e fingir. Na visão de um padre que respondeu à
pesquisa, a homossexualidade entre o clero constitui um comportamento marcado
pela violência, preguiça e farisaísmo. Tal comportamento é escandaloso e toda a
comunidade é a primeira a saber: Lamentavelmente, essa coisa não é só de
padres, mas também de bispos. O relacionamento com determinadas pessoas que são
subalternas é demasiadamente intenso e freqüente. Pessoa desconfiada, o
ministro homossexual mede as palavras e passa medo e desconfiança. Autoritário
e centralizador, é apegado ao dinheiro para beneficiar seus familiares. Se
ativo em sua orientação sexual, o ministro não é bem-aceito onde trabalha. Pode
tornar-se dependente de álcool e passar facilmente da euforia à tristeza e
depressão. Faz-se vítima, pode causar divisões, negar a realidade dos fatos e
esconder seus problemas. Isolado, pode viver na superficialidade e ser
agressivo com os colegas. Movido mais pelo impulso que pela razão, alguns
ministros continuam em seus relacionamentos homossexuais até morrerem de Aids
sob o olhar de seus bispos. Há um crescente corporativismo entre clérigos
homossexuais, caracterizado por carreirismo eclesial e busca de poder
econômico: paróquias ricas” (G. NASINI, Um espinho na carne. Má conduta
e abuso sexual por parte de clérigos da Igreja Católica do Brasil, Aparecida
2001, p. 115s).
[lxxxii]. J. NICOLOSI, “Homosexualität und Veränderung – wie ist das zu
verstehen?”, em: Deutsches Institut für Jugend und Gesellschaft (ed.),
Bulletin 5. Sonderheft Männliche Homosexualität, Reichelsheim 2005, p. 19-24,
20.
[lxxxiii]. J. SATINOVER, “Is Homosexuality Desirable? Brute Facts”, em: C.
VONHOLDT (ed.), Striving for Gender Identity, Reichelsheim 1996, p.
168-188, 181.
[lxxxiv], AARDWEG, Drama, p. 29.
[lxxxv], E. RINGEL, Selbstschädigung durch Neurose. Psychotherapeutische
Wege zur Selbstverwirklichung, Eschborn 2004 (reedição), p. 66s.
[lxxxvi], W. FRANKL, Die Psychotherapie in der Praxis, Viena 1961, p.
80ss, 85.
[lxxxvii], R.L. SPITZER, Can some Gay Men and Lesbians change their sexual
Orientation? 200 Participants Reporting a Change from Homosexual to
Heterosexual Orientation, em: Archives of Sexual Behavior 32 (2003)
403-417.
[lxxxviii].
Ibid., 413.
[lxxxix].
Homosexualidad y Esperanza. Declaración de la Asociación Médica Católica, de
EEUU, disponível em: www.narth.com/docs/eeuu.html.
[xc].
Houve discussões controvertidas, se o sexo masculino, como condição prévia para
a obtenção válida da ordenação, baseia-se no direito divino ou apenas
representa uma determinação eclesiástica. Essa controvérsia foi definitivamente
resolvida pelo papa João Paulo II (1978-2005), por meio da Carta Apostólica Ordinatio
Sacerdotalis, de 22 de maio de 1994.
[xci].
J. SAN JOSÉ PRISCO, La homosexualidad: criterios para el discernimiento
vocacional, em: Seminarios 166 (2002) 529-551, 546.
[xcii]. Cf. H. WINDISCH, “Priesteramt und Homosexualität”, em: Die
Tagespost, de 30-09-2004, p. 5.
[xciii]. B. KIELY, Candidates with difficulties in celibacy: discernment,
admission, formation, em: Seminarium 23 (1993) 107-118.
[xciv]. Cf. H. WINDISCH, “Nicht herstellen, sondern darstellen. Die
sakramentale Indienstnahme befähigt den Amtsträger, ‘in persona Christi’ zu
handeln, damit die Kirche leben kann, was sie nicht aus sich selbst zu leben
vermag”, em: Die Tagespost, de 25-02-2006.
[xcv].
De acordo com T. Anatrella, pessoas com tendências homossexuais sofrem de uma
“desconectividade estrutural” na posição frente à sua sexualidade (cf. T.
ANATRELLA, “Kirche kann unvollständige Sicht der Sexualität nicht
akzeptieren”), disponível em: www.kath.net/detail.php??id=12234.
[xcvi]. Cf. KIELY, Difficulties, p. 113.
[xcvii].
Conforme o c. 34, do CIC, as instruções explicam os preceitos de leis,
desdobram e determinam modos de procedimento que devem ser observados em sua
execução, são fornecidas para o uso daqueles que precisam cuidar para que as
leis sejam levadas ao cumprimento, sendo comprometidos na execução daquelas.
Por conta disso, W. Aymans denomina as Instruções “Determinações
administrativas”. Os órgãos administrativos são compromissados juridicamente
por meio de uma determinação administrativa (cf. AYMANS-MÖRSDORF, Kanonisches
Recht. Lehrbuch aufgrund des Codex Iuris Canonici, v. I:
Einleitende Grundfragen. Allgemeine Normen, Paderborn 1991, p. 221s). As determinações de instruções
não suspendem leis e quando não podem ser coadunadas com preceitos de leis elas
carecem de qualquer força legal. Uma instrução sempre está relacionada a uma
lei, ou seja, não representa uma criação própria de direito. Cf. ibid.
As anotações de uma instrução mostram que já existem normas claras, no que diz
respeito à admissão às ordens sacras. Contudo, chama atenção que não são
citadas nem a carta da Sagrada Congregação para a Ordem dos Sacramentos, de
27-12-1955, acerca da realização dos escrutínios antes da ordenação nem
tampouco a Instrução da Sagrada Congregação para o Clero, de 02-02-1961, que
excluíram ambas expressis verbis da obtenção da ordenação homens com
tendências homossexuais.
[xcviii]. Cf. T. ANATRELLA, Reflections on the Instruction on the Admittance
of Homosexuals into Seminaries. Disponível em: www.catholicnewsagency.com/document.php?n=100.
Elaborada por uma parceria entre as Congregações para a Educação Católica para
o Culto e a Disciplina dos Sacramentos e o Conselho Pontifício para a
Interpretação dos Textos Oficiais, ao longo de muitos anos, sob o Papa João
Paulo II, essa Instrução não pode ser considerada um “texto reacionário”,
compilado em poucas semanas, mas é fruto de estudos abrangentes e profundas
reflexões que permitem contemplar a extensão e o alcance do problema.
[xcix].
G. VAN DEN AARDWEG, Homopriester, Humanae vitae und die Männlichkeit,
disponível em: www.kath.net/detailphp?id=12188.
[c].
A. PYTLIK, “Pastorale Liebe und disziplinäre Klugheit”, disponível em: www.kath.net/detail.php?id=12117.
[ci].
H. KÜNG, “Zölibat setzt heterosexuell orientierte Persönlichkeit voraus”,
disponível em: www.kath.net/detail.phpid=12165.
[cii].
ANATRELLA, Reflections.
[ciii].
Em sua carta, que acompanha a Instrução, o Cardeal Grocholewski apela aos
bispos para que as prescrições ali apresentadas sejam “cuidadosamente
cumpridas” por todos os envolvidos na formação de sacerdotes. Cumpre, portanto,
atualizar as respectivas diretrizes dos seminários e adaptá-las à Instrução.
[civ]. Cf. H. WINDISCH, “Homo-Seilschaften? Bis in höchste Kirchenkreise!”, em: Die
Tagespost, 02-08-2003, p. 1.
[cv].
COZZENS, Priesteramt, p. 143.
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